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Olga Futemma

São Paulo / SP - Brasil
73 anos, cineasta e diretora da Cinemateca Brasileira

Cinema em casa


Apesar de não termos dinheiro, por algum motivo minha família sempre foi cinéfila. A gente ia muito aos cinemas japoneses do bairro da Liberdade, em São Paulo. Depois da sessão, íamos comer um pedaço de pizza na panificadora Santa Teresinha, na praça João Mendes. Até hoje é muito bom. E de doce havia uma novidade chamada Dantop.

Meu pai tinha um gosto cinematográfico completamente sofisticado. Ele defendia que Massaki Kobayashi era um diretor melhor que o Akira Kurosawa. Conversávamos o tempo todo sobre cinema em casa, e depois, já adulta, estudando a época de ouro do cinema japonês, percebi que eles tinham toda a razão. Tinham um gosto refinado que batia com a crítica. Isso é muito gozado, nunca vi gente próxima a nós discutir os filmes do jeito como se discutia em casa. Para todo mundo era mero entretenimento, para o meu pai era arte. De algum modo isso ficou comigo.

Minha primeira investida no mundo foi pela escola, entrei de cabeça. Eu sou a caçula. Na família tradicional japonesa – e isso se traduziu em casa – o primogênito é o top, é quem vai continuar o nome da família. E homem. As mulheres, digamos assim, têm papel de coadjuvante. Então sim, durante algum tempo, meu irmão mais velho teve um tratamento que nós achávamos um pouco privilegiado.

Minha irmã mais velha ajudava minha mãe a cuidar da casa, a do meio tinha grande talento para a dança, e a mim restava estudar. Mas ao longo do tempo tudo acabou se emaranhando, minha irmã mais velha fez faculdade de Ciências Sociais, enfim, as coisas não ficaram tão estanques como o modelo fazia prever.

Entrei na ECA-USP [Escola de Comunicação de Artes da Universidade de São Paulo] para fazer jornalismo, mas com a experiência de uma infância inteira vendo filmes, fiz inscrição para Cinema. Nunca ninguém da minha família questionou, eles não tinham esse grau de intervenção. Essa liberdade na escolha profissional representa um salto que talvez o pessoal da terceira geração não tenha idéia do que seja. Para minha mãe, por exemplo, poder escolher seu trabalho seria impensável.

Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Olga Futemma


Enviada em: 19/05/2008 | Última modificação: 23/06/2008
 
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Comentários

  1. Valdete Shizuko Tamashiro @ 20 Mai, 2008 : 17:11
    Olga Futemma. Esse nome e o filme "Hia Sá Sá – Hay Yah!" há tempos não me sai da cabeça. Como gostaria de assistir a esse filme! Será que está disponível / será exibido em algum lugar? Olga, seu depoimento foi belo! As histórias da família são bastante parecidas com as minhas e creio que de muitos okinawanos, imigrantes e descendentes. E a questão da arte, tão presente nos okinawanos. A festa, a celebração, a alegria que existe em cada casa uchinanchu! Parabéns pelo depoimento! E não descanso enquanto não assistir ao Hia Sá Sá – Hay Yah! Abraços enormes!

  2. Lucas Kenzo Dakuzaku @ 23 Mai, 2008 : 01:02
    Olá Olga! Fiquei contente em saber que exite uchinanchu no ramo da arte do cinema no Brasil. Tenho 17 anos e não conheço seus trabalhos, mas me interessei pelo "Hia Sá Sá - Hay Yah!". Seu depoimento sobre a época em que os ojis e obás se reuniam pra tocar shamisen e cantar, fez lembrar as histórias que meu pai conta de quando ele era garoto. E por acaso, eu toco shamisen e taiko hehehe.... Bom, é isso aí. Parabéns pelo seu trabalho. Saúde e sucesso... até+!

  3. Rita de Cássia Arruda @ 26 Mai, 2008 : 00:14
    Cara Olga: Lendo seus relatos, consegue-se entender bem o significado daquela expressão “alma de artista”. Em sua casa, ao que pude perceber, respirava-se cultura. Essa sua opção pela “sétima arte”, assim, parece um dado natural e decorrente do ambiente em que você foi educada. Adorei ler seus depoimentos. Seu pai deve ter sido uma figura e tanto. Também achei interessantíssimo o que você falou sobre o povo de Okinawa. Eu não fazia idéia dessa alegria esfuziante dos okinawanos. Foi uma grata surpresa tomar conhecimento desse fato. Você foi pioneira, iconoclasta, quebrou regras e apesar de ter rompido com as tradições familiares soube como cativar o afeto de seus entes queridos. Enfim... Virei sua fã. Obrigada por compartilhar conosco suas histórias. Um abraço carinhoso.

  4. Matilde M Y Tanabe @ 28 Mai, 2008 : 18:57
    Olá Olga:Sua história com maiores detalhes foi mostrada na TV Globo.Voce ocupa um espaço que muito me orgulha(diretora da cinemateca Brasileira),família de músicos,vida de muita garra e coragem, hoje podemos dizer "a imigração valeu a pena" abraços Ps.da galeria de fotos o prof de shamissen Seihin Yamauchi era tio do meu pai,ele foi tambem pianista, músico e divulgador da música clássica de Okinawa em vários países (in memoria)

  5. Regina Hara @ 29 Mai, 2008 : 12:42
    Amiga Olga! Seja através da sua história ou da imprensa, continuo tendo uma profunda admiração pelo seu dinamismo e espírito de luta que voce sempre teve. Sinto saudades das suas aulas de Liang Cong que voce fazia com muito carinho. Apesar de ter rompido as tradições, voce tem sempre presente a tal da "paciência oriental" Também escrevi a história da minha avó "a imigrante que viveu 106 anos" neste site. Mande notícias. beijos

  6. Massa Goto @ 10 Abr, 2011 : 17:36
    Olga, quando li a tua estória, do Mercado Municipal, da Rua Cantareira, deu uma saudade daquela época do CESP... Tem um pessoal do CESP fazendo um cadastro dos ex-cespeanos e gostaria de te incluir juntamente com a Rita Okamura, porém não tenho nenhum contato de vocês. O meu e-mail é: gotomassa@gmail.com

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