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Naomi Munakata

São Paulo / SP - Brasil
68 anos, musicista

Música de sobremesa


Como meu pai era regente, em casa sempre tinha muita música. Ele fazia muitos ensaios ali. Em geral cantava-se música internacional, mas em japonês. Canções folclóricas da Alemanha, por exemplo, mas com a letra em japonês. No Japão se usa muito isso, por causa da dificuldade deles em pronunciar outras línguas. Música tradicional japonesa nunca tinha, porque meu pai sempre foi mais para o lado ocidental. Ele gostava muito de ópera.

A sobremesa do meu pai era cantar. Depois do jantar, um ia lavar a louça, outro ia para o piano acompanhar o meu pai. Por isso uma coisa que meu pai exigia era que todo o mundo em casa estudasse piano. Ele precisava de alguém para acompanhar. Claro que lavar a louça era mais rápido, mas eu acabei curtindo isso de tocar. Tocava na igreja também, acompanhando o coro que ele regia na igreja. Pra mim isso nunca foi uma obrigação. Sempre gostei.

Eu não pude entrar oficialmente no coro do meu pai até os 16 anos, embora eu já convivesse com as pessoas que cantavam lá. Com a mesma idade, eu também fui autorizada a sair de noite para cantar em corais brasileiros. Cantava toda noite. Meu pai às vezes ia junto. Como eu já sabia ler partitura e tocar piano, logo me deram um cargo de monitora ou de “ensaiadora” nesses coros. Desde cedo já comecei a reger.

Eu sempre gostei de trabalhar com a mão. No início eu queria estudar fisioterapia, mas acabei me decidindo mesmo pela regência. A única coisa que meu pai sugeriu é que eu estudasse um instrumento de orquestra. Aí eu fui obrigada a estudar violino. Eu odiava! Eu queria era tocar violoncelo, mas meu pai disse que era um instrumento muito caro. Aí, ele comprou o violino. E eu fiquei sete anos tocando violino na Orquestra Jovem Municipal.

Estudei regência no Instituto Musical de São Paulo, que não existe mais. Ficava na Liberdade, perto da Baixada do Glicério. Na verdade, eu fui atrás de um professor, que era o Roberto Schnorrenberg. A faculdade em si era muito oba-oba, as pessoas entravam sem nem saber tocar direito. Minha sorte foi que o Schnorrenberg gostava muito de mim e me adotou. Senão, eu teria largado no primeiro ano.

A verdade é que a minha profissão não é nada nipônica. Pelo contrário: regente mulher de um coro profissional é uma coisa muito recente mundialmente. No Japão é pior. Mulher, lá, só é regente de escola e professora. E nem tem tantos corais profissionais. O que tem é muito coro feminino. Eles chamam de “coro de mamães”, porque agregam as donas-de-casa que não têm o que fazer. Meu pai chegou a ter um coro desses aqui no Brasil. O Japão mandava muitos empresários pra cá e as “mamães” ficavam sobrando.

As pessoas dizem que eu sou regente porque eu gosto de mandar. Não é verdade. É porque eu gosto de mexer com a mão. A minha diversão é moldar a música com a mão. Teve uma pessoa que eu encontrei uma vez que era espírita, e me disse que eu fazia “cura com as mãos”. E, de fato, eu lembro que, quando eu fazia coro amador, eu via que as pessoas vinham tensas e saíam aliviadas. Eu mesma, com labirintite, consigo reger 40 minutos de pé sem ter nada. É uma magia, sabe?

Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Naomi Munakata


Enviada em: 05/03/2008 | Última modificação: 05/03/2008
 
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Comentários

  1. tatsue @ 9 Mar, 2008 : 20:03
    Naomi, adorei a sua história. Vc. é uma batalhadora, cheia de garra. Eu tbem penso como vc, a respeito do Brasil e Japão. Por coincidência, tbem sou de Hiroshima, chegamos ao Brasil em abril de l959, no mesmo navio "Chisadane".

  2. Toshio Icizuca @ 29 Abr, 2008 : 00:43
    Conheci seu pai, pastor Munakata, em 1957, quando frequentava a Igreja Sulamericana, em São Paulo. Sempre desconfiei que você era filha do pastor. Hoje, sou engenheiro aposentado e moro em Piracicaba. Sou articulista do Jornal de Piracicaba e outros jornais e revistas. Também tenho site publicado, pois meu filho é o produtor deste site.Meus parabens pelo seu trabalho à frente da sinfônica!

  3. rachel @ 30 Ago, 2008 : 21:21
    assisti você agora mesmo no Masters. Adorei vê-la expressar-se. Adoro os japoneses. Seus olhinhos pequenos , seus cabelos pretos. Tudo que fazem, fazem bem. E você não seria exceção. Você é maravilhosa. Eu sou clara, olhos azul-escuro, nascida em Florianópolis/SC, tendo morado muitos anos em Porto Alegre onde me formei, infelizmente não em música. Amo a música. Toco violão desde criança. estudei quatro anos de piano. Mas o ciolão gritou mais alto no meu coração. Vivo e transpiro musica Naomi. E gostaria de ter sido uma arranjadora. Mas, achei você. Não fique tão só como disse. Não fique com a solidão. Quem sabe, podemos unir nossos silêncios. E, por falar em silêncios, suas mãos falam. Retorne, please! rachelecc@ibest.com.br

  4. Flávio Daruz @ 30 Ago, 2008 : 21:44
    As minhas experiências, como descrevi em minha página, foram mais ou menos o inverso das suas: um brasileiro que ajaponezou um pouquinho. Ainda sim, pude me identificar muito com algumas das coisas que você escreveu. Muito legal! Um abraço.

  5. fabio @ 19 Set, 2008 : 11:10
    como dizer em japoneis so vc mora no meu coração

  6. Ivan Tadeu Couto Rojas @ 10 Jun, 2009 : 04:06
    Prezada profa. Naomi. Meu nome é Ivan Rojas, sou Mestre em Psicologia Clínica e especialista em Filosofia pela PUC-SP. Gosto muito de seu trabalho na Cultura fm. Vc tem uma grande vocação para a música sacra e sua voz e muito charmosa. Aceite meus cumprimentos. Com estima Prof. Ivan Tadeu Couto Rojas

  7. Marcos N. Salmeron @ 28 Set, 2009 : 13:43
    Fui aluno de Naomi no Conservatório Municipal de São Paulo, e me encantei com seu profissionalismo e entendimento sobre a vida e ao ensino como um todo. Acabei seguindo a carreira de médico e desisti da música, mas segue comigo os ensinamentos da minha querida professora de música. Parabéns. PS: quando dá sempre te escuto na Cultura FM. caso alguém leia, se puder, repassar meu e-mail para ela, pois gostaria de revê-la: mnsalmeron@hotmail.com

  8. Joel R de Mello @ 28 Set, 2009 : 16:38
    Naomi, estava procurando por seu irmao Kazumi que foi meu colega no primario, na saudosa escola Americana de Mirandopolis, Que saudades. Hoje sou Médico e gostaria de ter contato com Vcs. ABS Joel

  9. Joel @ 28 Set, 2009 : 16:40
    Meu e - mail joelrmello@yahoo.com.br

  10. Joel @ 28 Set, 2009 : 16:40
    Meu e - mail joelrmello@yahoo.com.br

  11. Marcos Nozomi @ 15 Out, 2009 : 09:36
    Tenho que agradecer muito os meus Pais, por ter uma irma tao maravilhosa. Te adoro muito!! do seu irmao do Japao:Marcos Nozomi

  12. Ricardo Brandão @ 22 Jul, 2010 : 05:29
    Oi Naomi, Por gentileza, como se chama o estilo de Canto Coral da música de Franz Liszt – de a Sinfonia Dante - que a Rádio Cultura FM tocou aproximadamente às 11h45 da amanhã do dia 21/07? Por favor, você poderia me passar uma lista de músicas e seus respectivos autores deste estilo de Canto Coral e onde posso encontrar cds para comprar ou músicas para baixar? E se existe algum lugar onde eu possa assistir este estilo de Canto Coral. É um estilo de canto coral e música bem suave. Parabéns pelo trabalho realizado através do Programa Vozes da rádio CULTURA FM. Aguardo retorno. Obrigado ricardobrandaosp@yahoo.com.br ricardo.souza@astrazeneca.com

  13. Kazumi @ 10 Set, 2010 : 14:38
    Ei Naomi. O seu depoimento é comovente. Legal essa história das mãos. Valeu!

  14. marina canto @ 7 Jan, 2012 : 15:38
    devemos ser colegas. meu irmão Alberto e eu tambem estudamos na escola americana de mirandopolis. um abraço

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