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Kanetaro Ogura

Hakodate / Hokkaido - Japão
24 anos, imigrante

A vinda para o Brasil


Na verdade, o destino da família do diitchan Kanetaro poderia ter sido a Rússia. Antes de vir para o Brasil, conforme minha tia Aiko contou, ele sempre falava em ir para “Karafuto”, ou, Rússia, conforme era chamado (por eles) aquele país... ou alguma região daquele país; mais provavelmente aquelas ilhas ao norte do Japão, ainda em litígio com a Rússia. De qualquer forma, ele não queria ficar em Nigorigawa. E isso é verdade, porque a tia Aiko, nascida aqui, não se conformava, que tendo “sangue azul” e a vida confortável que tinham lá, o pai se decidira por vir ao Brasil e passar por tudo o que passaram. Então curiosa, além de inconformada, perguntou ao pai a razão. A resposta não lhe foi muito convincente, na época. O odiitchan respondeu-lhe que, desde jovem, nunca aceitara o fato de “não poder ver o horizonte” de sua casa, porque a vila de Nigorikawa, onde moravam, se localizava dentro de um vale, como se fosse a cratera de um vulcão. Aliás, um grande vulcão em atividade se localizava a poucos quilômetros dali (ouvi de minha mãe, que também nasceu lá, relatos sobre esse vulcão em erupção, e que deixaram, nela, lembranças aterrorizantes, sobre bolas de fogo na escuridão da noite, enormes e ameaçadoras). Ele sempre afirmava que ali não era o lugar ideal para se criar os filhos, porque em seu conceito queria um lugar que possibilitasse “dar-lhes mais asas”, aumentar-lhes as oportunidades de conhecimento. Por isso já pensara anteriormente em se mudar para “Karafuto”, intenção impedida pelos familiares, anteriormente. Até que surgiu o Brasil e, aí, não teve dúvidas. "De mala e cuia”, aos 43 anos, largou tudo e partiu para o Brasil com toda a família (esposa Kiyo, 32, e sete filhos – Fusa, 14; Ichio, 11; Hanaye, 9; Yoshio, 6; Kazuko, 4; Haruo, 2; Tetsuo, 1), mais a mãe Ika, 69, dois irmãos, Shogoro, 31, e Hina, 51; e mais dois sobrinhos, Koichi Shimada, 22, e Shizue, 15. Ou seja, diferentemente da maioria que veio para fazer o “pé-de-meia” e retornar, vieram mesmo para ficar! “Para dar mais asas aos filhos!” Chegaram ao Brasil no dia 2 de junho de 1932, no porto de Santos, a bordo do Rio de Janeiro Maru, procedente de Kobe.
Mas, minha tia Aiko, que “não dava o braço a torcer”, alguns anos atrás, tendo tido a oportunidade de ir para o Japão, na carona do movimento dekassegui (no caso dela, como “kaseifu”, para cuidar de idosos em hospitais e residências), pouco antes de retornar ao Brasil, em definitivo, resolveu dar um “pulinho” até a Vila de Nigorigawa, a fim de constatar a afirmação do pai. Postou-se, de pé, no meio da vila, e girou, vagarosamente, 360 graus. Só viu montanhas. Deu-lhe razão. Retornou satisfeita... e orgulhosa.


Enviada em: 07/06/2008 | Última modificação: 14/06/2008
 
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Comentários

  1. Silvio Sano @ 13 Abr, 2009 : 11:17
    Nem sempre a imagem que temos de uma pessoa idosa, no momento, é a que reflete a sua personalidade. Aprendi isso no momento que me foi revelada a história de meu avô por meus tios, em São José do Rio Preto, no início de 2008. Muito tempo... mas muuuito tempo depois de eu ter nascido. Uma vergonha! E uma injustiça para com ele. O meu avô, desde que aqui (no Brasil) aportou, diferentemente da maioria dos imigrantes, só conheceu conquistas... e extraordinárias. Tudo indicava que ele retomaria a vida nobre que deixara no Japão. Mas alguns percalços foram ocorrendo, não por culpa dele, que foram culminar quando não tinha mais condições de se reerguer, devido à idade. Meu contato "real" (quando já podia me considerar "gente") com ele e família começou nessa fase. Daí porque marcou em minha mente uma imagem errônea e injusta dele. Confesso que considerava-o apenas um "bom velhinho". Ah! Como me arrependo! Por isso me emocionei ao redescobri-lo e, por isso, resolvi que ele não deveria ser apenas uma parte em meu perfil neste site. Ele merecia um espaço, um perfil só dele, exclusivo. E aqui parabenizo aos idealizadores deste site, que agora pertence ao Museu do Bunkyô, porque, no mínimo, estimulou muitas pessoas a reverem suas raízes, bem como, a entenderem melhor certas posturas dos ancestrais com que discordavam "lá atrás".

  2. Tieko Fujiye @ 9 Mar, 2010 : 12:30
    Assim como Kanetaro Ogura, muitos imigrantes contribuiram para o desenvolvimento do Brasil, deixando para trás o passado tão ilustre, não revelando em vida a sua origem, sendo homenageados com louvor por seus descendentes.Parabéns aos idealizadores do site e ao Museu do Bunkyô por estar responsável pelo prosseguimento do Projeto, com certeza teremos muitas revelações através das histórias aqui relatadas.

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