Tenho uma memória de antes dos 5 anos muito, muito vaga. Mal me lembro do tempo da pré-escola. Lembro que, crescendo na Zona Leste de São Paulo, numa casa afastada com meus quatro irmãos, minha mãe saía pra trabalhar e não dava muito tempo de ficar batendo papo, não. Somos cinco em escadinha, com diferença de 2 a 3 anos entre cada um, então nós éramos o bando todo. A gente não saía pra rua, ficava em casa, brincando no quintal, vida muito simples.
A combinação perfeita e singela do arroz com seus adereços em sushis esconde quem é a estrela. A textura perfeita do ohtoro, do unagi, do iwashi fresquíssimo com gengibre, do tako cozido no ponto certo, do ikura brilhando? Hum... a estrela é aquela essencial. Sem a qual não há. E nenhuma iguaria pode proporcionar o seu sabor completo sem que o gohan esteja perfeito. O arroz errado, mal temperado, mal cozido, ah, muitos, muitos pontos a menos para qualquer sushiya.
Ando demais de triste. Neste exato momento. Tem sido dias cheios de pufs, com pitadas de boas novas, sim, mas tanto por dizer. Ser assim, japa com sangue nas veias é nunca achar bom o suficiente, é querer sempre fazer mais e melhor.
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Fiz o kareraisu, de verdade. Já salvei todas as imagenzinhas da receita.
Gabi Yamaguchi é jornalista da ECA/USP, paulistana e morou no Japão por dois anos, trabalhando como repórter em Tóquio. Sua filha adora estrelas e sua mãe faz o melhor kareraisu do mundo. Hoje está no marketing, fala sem parar mexendo muito as mãos e não tem a menor disciplina na cozinha, só usa receitas de lembranças.