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  Conte sua históriaJapinha Ricardo Di Roberto › Minha história

Japinha Ricardo Di Roberto

São Paulo / São Paulo - Brasil
124 anos, músico

A loja da avó tinha roupa, pipa e fogos de artifício


O que eu sei é que meus bisavós desambarcaram no porto de Santos em 1918. Vinham de Okinawa, a bordo de um navio chamado Wakasa. Chegaram aqui com uma mão na frente e outra atrás, uma malinha de roupa e bem pouco dinheiro. Foram logo para o interior, para a região de Matão, trabalhar nas plantações de tomate e algodão. Era tudo muito duro: não havia conforto, a alimentação era precária, a comunicação era praticamente impossível. Muita gente desanimou, voltou. Mas meus bisavós resolveram permanecer. Tiveram fibra e coragem para encarar essa bronca.

O mais legal disso tudo é que, pela persistência, meus bisavós puderam sobreviver e dar condições para que meus avós se desenvolvessem. E, de lá para cá, houve só progresso. Vejo pela minha mãe, que é a terceira geração da família aqui no Brasil. Apesar de ela não ter ficado rica, conseguiu fazer uma faculdade, saiu da roça (Veja o vídeo em que o Japinha fala sobre o progresso de sua família no Brasil).

Eu só conheci a minha avó, Luzia – cujo nome, na verdade, era Hume. Passei até boa parte da minha adolescência sendo “criado” por ela. Meus pais viviam deixando a gente com ela, para trabalhar, para sair, para viajar. Nós éramos três irmãos e mais um primo que morava com a gente, ou seja, quatro moleques tocando um terror aqui em casa. Então meus pais sempre pediam ajuda para ela. Ela era tão apegada a nós que, quando a gente ia embora, ela se despedia chorando de saudades antecipadas.

Quando minha avó veio do interior para São Paulo, ela abriu um bazarzinho onde vendia milhares de coisas: roupa, pipa, fogos de artifício. Era uma daquelas lojas de japonês que vende de tudo. Quando a gente chegava lá, era uma festa. A gente pedia linha e papel para fazer pipa, bombinha para soltar na rua, e a minha avó vivia dando.

Como o comércio dela não dava muito dinheiro, ela vivia numa casa humilde, lá no Parque São Lucas. Tinha só uma cama de casal, e nossa batchan, toda acolhedora, punha os quatro moleques para dormir na cama com ela. E a gente vivia super bem, super feliz. Criança, né? Não tem tempo ruim.

Eu vivia pedindo para a minha avó ensinar japonês para mim. Mas ela tinha uma certa dificuldade de ensinar as coisas para a gente, até pela pouca cultura que ela adquiriu. Minha avó nasceu na roça, tinha pouca educação. O que ela aprendeu de japonês foi com os pais dela. Ela até tentava ensinar, mas tinha que ser na raça. Eu pegava o que ela falava e anotava num papelzinho. Quando eu estava começando a aprender, com uns 12 ou 13 anos, ela faleceu. Para mim hoje seria ótimo saber falar o idioma japonês. Mas o pouco de cultura que ela passou para a gente – a religião, a culinária, a educação, o respeito –, isso tudo a gente tem até hoje. (Assista ao vídeo em que o Japinha fala sobre a sua avó).

Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Ricardo Di Roberto
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes


Enviada em: 14/05/2008 | Última modificação: 29/12/2017
 
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Comentários

  1. ZEM @ 18 Mai, 2008 : 23:21
    O elemento ZEN. hehe. Muito legal essas histórias Ric. Adorei as fotos antigas e os cartazes que a Luzia preparou com tanto carinho. FIcou super legal a matéria inteira. A família toda está de Parabéns. Amo todos aí. Obrigado por tudo. Beijão a todos. ;)

  2. Paula @ 29 Mai, 2008 : 20:16
    Oi Japz. Apesar de ser brasileira, sou apaixonada por essa maravilhosa cultura japonesa. Hj meu maior objetivo é me especializar na lingua japanesa. E seguir ao encontro da amada Terra do Japão. Tenho uma grande admiração pelo Brasil, mas sinto que eu tenho uma ligação muito grande com o Japão. Adorei sua historia.Materia ficou sensacional Mil Beijinhos para toda a familia.

  3. Lúú! @ 6 Jun, 2008 : 14:37
    Comeceei a me interessar pela cultura japonesa graças ao Japinha...Minha paixão por coisas e pessoas orientais partiu do dia em que vi ele na TV pela primeira vez! :D

  4. Francielle Drago @ 7 Jun, 2008 : 21:19
    Adoreii a materia, é muito bom saber um pouco mais da historia de vida, de um pessoa q amamos tanto... poder ouvir relatos da sua infancia, ver fotos... Japinha o musico q faz nosso coração bater no compasso da sua bateria, mas alem de tudo o Ricardo, homem q admiramos pela forma de ser e agir. beijos Rick , beijos familia Di Roberto

  5. Akira [-.-] @ 11 Jun, 2008 : 13:34
    Falaaaeee japinha, blz mano!! Cara, massa seu depoimento, parabéns!!!... lendo os textos fica nítido o cara humilde que você é... continue sempre assim. Força, paz e muita saúde véio... você merece!!!!! Abraço, vamo torce muito pro timão hoje a noite.... huhauhauhauha... ae, vou mandar o link pro Nei... ele não deve ter visto... eu entrei por acaso, vi sua foto, acabei me interessando e lendo quase tudo... preciso voltar a trampar, depois eu termino de ver tudo... srrsrs..

  6. Maiara @ 13 Jun, 2008 : 19:27
    Muito bom ! Acho a cultura Japonesa muito rica! Adorei saber um pouco mais sobre ela com os depoimentos do meu grande ídolo! Beijão!

  7. gabriel @ 4 Jul, 2008 : 11:58
    as panelas da sua mãe é boa!

  8. Japa Loko @ 23 Jul, 2008 : 10:52
    Pô bicho ! Que coisa estranha. O último post de tua página foi dia 4 de julho e no entanto tu tá sempre aki na capa. Geralmente neguinho só vem pra frente quando alguém deixa algum comentário ou quando a página é atualizada. A tua tá igualzinha como no início, japa ! Todo dia eu chego aki e vejo tua cara estampada. Ego trip é pouco!

  9. kody yoko @ 11 Ago, 2008 : 10:54
    como se faz uma pipa japonesa?

  10. Japa Loko @ 10 Set, 2008 : 09:33
    O último post de tua página foi dia 11 de agosto (faz quase um mês !) e tu continua aki na capa !!! Vaidade é teu nome, Ricardo ! Jesus ! Ao menos por ora vou te fazer subir pro topo da lista. Depois tu mesmo vai se encarregar disso, né? Fuuuuuuui !!!

  11. leitchan @ 11 Set, 2008 : 00:26
    Talvez sua paixão pela música e festa também venham do lado da sua imê (avó), porque mesmo ela sendo brava, ela era utinanchu (de Okinawa). Nós, os descendentes de Okinawa sempre somos acusados de gostarmos de música, dança, festa, e saquê. Fazer o quê, né? Sucesso!

  12. japa pobre @ 25 Set, 2008 : 02:36
    sou fã dele

  13. Midori @ 6 Out, 2008 : 11:35
    Adorei essa matéria q vc fez,gostei mto do Brasil dar valor a cultura japonesa...aqui no Japão tbm estão fazendo varias homenagens ao 100 anos da imigraçao japonesa.Dia 12 de outubro vão fazer mais uma homenagem,vai ter brasileiros,japoneses dançando samba...tipo carnaval mesmo,e o tema vai ser sobre o algodão,café...etc...Essa matéria mostrou como vc é bem simples e simpatico,dizem q o povo d Okinawa são bem mais amigos,mais alegres,mais divertidos,e mais educados...deve ser por isso q vc é assim,só de ver vc já dá pra perceber o qto vc é simpatico... Bjsss Japinha e á familia!

  14. josefa @ 17 Out, 2008 : 17:33
    por favor, estamos fasendo trabalho escolar para apresentação em comemoração ao dia da imigração japonesa, e precisamos exatamente seu material sobre os imigrantes que se instalaram no parque sao lucas, somos uma classe da escola chediak, e agradeceriamos muitissimo sua ajuda, obrigado, contato urgente para josefa, email josefa@engenatto.com.br.

  15. Raquel @ 20 Jul, 2009 : 04:03
    eu senpre fui fãnsoca da cultura japonesa e chinesa adoro arte marcias, cheguei a fazer 1 ano de karater, e sou fã de bruce lee. anoto no ci sitemasu

  16. Carolina @ 4 Abr, 2010 : 14:38
    Tenho uma ligaçaõ muito grande com o japão nasci no brasil e ninguem da minha familia tem ligação japonesa e eu sinto que o japão é o meu lugar assisto animes e gosto muito inuyasha é o meu favorito criado por Rumiko Takahashi tenho vontade de ir lá só pra falar com ela me respondam por que eu tenho uma ligação tão grande???

  17. Sergio.s.ussui@bol.com.br @ 24 Mai, 2010 : 12:53
    Legal vc ser bem resolvido. já eu, não consigo entender por que nascido no Brasil não sou tratado como brasileiro e se for ao Japão serei considerado estrangeiro.

  18. bruna @ 11 Nov, 2010 : 18:05
    e muito bom se japones eu sou japonessa eu acho legal

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