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Jum Nakao

São Paulo / São Paulo - Brasil
57 anos, Estilista e diretor de criação

A costura do invisível: o desfile de papel


Faz 23 anos que não paro. Trabalho quase sem final de semana, emendando um projeto no outro. Depois do CIT (Coordenação Industrial Têxtil), atuei numa confecção infantil, na B.O.A.T House e fui para o Japão, conhecer as semanas de moda de lá. Voltei ao Brasil, passei por várias confecções, montei uma empresa com um amigo e outra com os meus irmãos, até que, em 1996, me inscrevi no Phytoervas Fashion (berço da São Paulo Fashion Week). Desfilei e fui considerado a revelação do evento. Aí, surgiu o convite da Zoomp para dirigir o departamento de criação da grife, onde fiquei até 2002. Abri a minha própria marca e, nesse relacionamento mais intenso com o mercado, comecei a questionar o sistema. Em 2004, decidi romper com ele.

Não acreditava – e ainda não acredito – nessa engrenagem baseada em pensamentos pasteurizados, reducionistas, que induzem à formatação. Me deparei com os mesmos questionamentos da época do colegial. Para conseguir espaço no mercado, precisava abdicar dos meus preceitos e idéias, a fim de atender a uma demanda. Além desta cultura vazia, enfrentava a falta de viabilidade comercial e industrial. Manter a minha marca era uma tarefa quixotesca.

Assim, fiz o desfile de papel, a minha última apresentação na São Paulo Fashion Week, em 2004. Com uma equipe de artistas, criei vestidos de fábula, inspirados no século 19, em papel vegetal, que consumiram 700 horas de trabalho. Para potencializar o lúdico, usamos cabeças de bonecos Playmobil nas modelos, que criaram uma suspensão do tempo: passado, presente e futuro se uniam, como num sonho.

Ao final do desfile, as modelos se enfileiraram na passarela para uma última contemplação e, subitamente, rasgaram todos os trajes. O choque criou um questionamento na cabeça das pessoas. Queria mostrar que o mais importante é o conteúdo, a idéia, não a forma. Esta forma deveria ser tão valiosa e os pensamentos por detrás dela, tão densos, que, mesmo desaparecendo, aquilo permaneceria na retina imagética das pessoas, deixando cicatrizes (Veja mais detalhes sobre o desfile em vídeo).

Parece ter funcionado: no ano passado, o desfile foi considerado o melhor da década pela própria organização da São Paulo Fashion Week. Também em 2006, o Museu da Moda de Paris mostrou a apresentação como uma das mais representativas do século, colocando-a junto a criações de ídolos meus, como John Galliano e Yohji Yamamoto.

Rompi com o mercado, mas não com a moda. Hoje, dou aula no Instituto Brasil de Arte e Moda (composto pela Faap, Associação Brasileira das Indústrias Têxteis, Senai e Masp), presto consultoria na área de confecção e organizo workshops de criação e direção de criação. Também preparo exposições dentro e fora do País.

Depoimento ao jornalista Márcio Oyama
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Jum Nakao
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Site de Jum Nakao: http://www.jumnakao.com.br>


Enviada em: 27/11/2007 | Última modificação: 06/02/2008
 
 

Comentários

  1. Sofia Nanka Kamatani @ 28 Nov, 2007 : 20:12
    Prezado Jum Li a sua descrição da vinda dos seus avós ao Brasil em busca do "Eldorado", me fez lembrar a minissérie Haru e Natsu, é uma minissérie que tanto descendentes ou não descendentes devem assistir para compreender melhor,como foi uma parte da História da Imigração Japonesa. Rumo ao Centenário acredito que é o dever de cada um de nós deixarmos o registro para as futuras gerações. Um forte abraço de quem admira o seu trabalho, pela ousadia em acreditar no projeto e da descoberta do "Eldorado da moda".Parabéns! Sofia Nanka Kamatani graphic designer

  2. Lizimar @ 29 Nov, 2007 : 22:43
    Caro Jum LI Que barra, ficar orfã logo na chegada em um País novo sem conhecer uma pessoa se quer nossa parabéns pela força de sua familia. E Parabéns pelo seu trabalho que admiro

  3. Pollyana M. P. Fujiwara @ 11 Fev, 2008 : 21:48
    Sua descricao de eldorado e de todas as dificuldades que sua familia passou sao descricoes atualizadas de tudo nos brasileiros passamos hj no japao .Impressionante que depois de tantos anos os papeis se invertam e o sofrimento continua entre esses dois povos, mais impressionante ainda que mesmo depois de tanto tempo as pessoas ainda tenham que passar por tanta coisa em busca de uma vida melhor ..... Estou no japao a dois anos e ainda tem coisas que sao muito dificeis pra nos brasileiros no japao, estou passando pelas mesmas coisas so que no caminho inverso

  4. Bianca @ 25 Jun, 2008 : 18:53
    Menino do céu, que coisa mais linda você. Tem tempo que quero te dizer isso. queria usar o vídeo da costura invisível para uma disciplina de semiótica. como faço para conversarmos sobre? Um abraço: Bianca www.flordebelalma.blogspot.com

  5. japa pobre @ 25 Set, 2008 : 02:59
    sou fã dele

  6. Carolline @ 8 Jun, 2010 : 07:56
    gostei muito de sua hitoria,meu sonho é ser estilista mas não encontro nenhuma escola tecnica nem estagio . então ,o que o senhor acha que devo fazer?

  7. ridete recife @ 11 Jul, 2010 : 05:01
    Jum é exemplo de ser humano a copiar. Cada vez q entro em contato com o seu mundo, aprendo sempre alguma lição. Assim, vou tentando lapidar a minha alma p/a quem sabe um dia conseguir torná-la grandiosa com a do meu querido Jum.

  8. ridete @ 11 Jul, 2010 : 05:54
    Jum é exemplo de ser humano a copiar. Cada vez mais que entro em contato com seu mundo, aprendo sempre alguma lição. Assim, vou tentando lapidar a minha alma p/a quem sabe um dia conseguir torná-la grandiosa com a do meu querido Jum.

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