Conte sua história › Otávio Omati › Minha história
Das mesmas terras natalinas do compositor Narita Kamezo, lembro-me do quão magnífico era olhar o céu azul ao redor das imponentes montanhas vulcânicas e o correr das águas tranqüilas e límpidas dou rio Nanigawa ao norte da província de Akita, agora Moriyoshi Machi, minha terra natal.
'Forme uma família e vá para a América do Sul', era o que dizia a propaganda do governo japonês na época.
Fui imigrante para o Brasil partindo dessa terra em Showa 5, ano 1930, junto com minha avó materna e mais 11 familiares.
Parentes e amigos foram se despedir de nós até as margens da embarcação. Diziam: 'Sra. Matriarca, acho que não nos veremos mais, cuide da sua saúde...'. Algumas pessoas falavam com a voz travada de chorar, outras não conseguiam expressar a dor da separação.
De Moriyoshi Machi, utilizamos um barco até a vila de Futatsui e a partir dali um trem até chegar a Kobe e de lá partimos para a longa jornada...
Hong Kong, Vietnam, Singapura, costa da Índia, trópico do Equador, Dubai, África e, finalmente, o Oceano Atlântico.
Publicação do jornal interno no navio pelo meu tio Kenjiro e eu:
- Queixas de passageiros pelo tratamento oferecido no navio;
- Undokai e atividades culturais;
- Animosidades entre passageiros da 1ª e 3ª classes;
- Morte de um pai de família, deixando esposa e 3 filhos;
- A primeira visão de um casal de beijando na boca em Dubai;
Finalmente a chegada ao porto de Santos, onde os responsáveis nos encaminharam aos nossos destinos... Região Noroeste do estado de São Paulo.
Fomos para uma fazenda de imigrantes italianos, distante 8 km de Promissão. Sob a liderança de meus tios Kenjiro e Juintiro, cuidamos de 1200 pés de café em 6 hectares de terra.
Em Bastos, conquistei minha independência e finalmente eu e minha esposa Suki constituímos uma família. Mesmo grávida, ela ajudava incansavelmente na lavoura do café e algodão."
Estas são algumas passagens do livro de lembranças de meu avô paterno, Taro Ohmachi, um jornalista que, assim como milhares de outros imigrantes japoneses, veio tentar a sorte no Brasil. Este é o começo da minha história...
A família da minha mãe veio de Shikoku, da Província de Kagawa. A história se repete: interior de São Paulo, trabalho no campo, Bastos, São Paulo.
Sou neto de japoneses, nasci no Brasil e tenho a alma brasileira, mas o sangue continua japonês. Uma mistura que deu certo por aqui. Tem melhor combinação do que churrasco com oniguiri?? Fui criado assim, numa mescla das culturas brasileira e japonesa, freqüentando a escola primária durante o dia e o nihongakko em algumas tardes da semana. Aprendi a ler e escrever hiragana e katakana, mas, se aprendi a falar japonês, devo ter esquecido em algum momento da vida. Meu avô me dava aulas de japonês algumas noites por semana, mas, infelizmente, eu não sou tão inteligente quanto ele foi.
No Brasil, é difícil não ser contagiado pela magia do futebol e não foi diferente comigo. E por causa disto tive uma das maiores decepções da minha vida durante a Copa de 82. Mas, por outro lado, meu Santos já me deu muitas alegrias!!! Na TV e no videocassete, desenhos e filmes japoneses faziam a nossa cabeça: Ultra Seven, Ultra Man, Patrulha Estelar, Dr. Slump, Hachijidayo...
Assim, foi entre bonenkais e festas juninas, undokais e desfiles de Sete de Setembro, arroz/feijão e shirogohan/tsukemono, que aprendi a amar estas duas culturas tão diferentes, mas que se complementam perfeitamente.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil