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  Conte sua históriaOtávio Omati › Minha história

Otávio Omati

São Paulo / SP - Brasil
51 anos, médico

O diário do meu avô e o começo de tudo


Das mesmas terras natalinas do compositor Narita Kamezo, lembro-me do quão magnífico era olhar o céu azul ao redor das imponentes montanhas vulcânicas e o correr das águas tranqüilas e límpidas dou rio Nanigawa ao norte da província de Akita, agora Moriyoshi Machi, minha terra natal.

'Forme uma família e vá para a América do Sul', era o que dizia a propaganda do governo japonês na época.

Fui imigrante para o Brasil partindo dessa terra em Showa 5, ano 1930, junto com minha avó materna e mais 11 familiares.

Parentes e amigos foram se despedir de nós até as margens da embarcação. Diziam: 'Sra. Matriarca, acho que não nos veremos mais, cuide da sua saúde...'. Algumas pessoas falavam com a voz travada de chorar, outras não conseguiam expressar a dor da separação.

De Moriyoshi Machi, utilizamos um barco até a vila de Futatsui e a partir dali um trem até chegar a Kobe e de lá partimos para a longa jornada...

Hong Kong, Vietnam, Singapura, costa da Índia, trópico do Equador, Dubai, África e, finalmente, o Oceano Atlântico.

Publicação do jornal interno no navio pelo meu tio Kenjiro e eu:
- Queixas de passageiros pelo tratamento oferecido no navio;
- Undokai e atividades culturais;
- Animosidades entre passageiros da 1ª e 3ª classes;
- Morte de um pai de família, deixando esposa e 3 filhos;
- A primeira visão de um casal de beijando na boca em Dubai;

Finalmente a chegada ao porto de Santos, onde os responsáveis nos encaminharam aos nossos destinos... Região Noroeste do estado de São Paulo.

Fomos para uma fazenda de imigrantes italianos, distante 8 km de Promissão. Sob a liderança de meus tios Kenjiro e Juintiro, cuidamos de 1200 pés de café em 6 hectares de terra.

Em Bastos, conquistei minha independência e finalmente eu e minha esposa Suki constituímos uma família. Mesmo grávida, ela ajudava incansavelmente na lavoura do café e algodão."

Estas são algumas passagens do livro de lembranças de meu avô paterno, Taro Ohmachi, um jornalista que, assim como milhares de outros imigrantes japoneses, veio tentar a sorte no Brasil. Este é o começo da minha história...

A família da minha mãe veio de Shikoku, da Província de Kagawa. A história se repete: interior de São Paulo, trabalho no campo, Bastos, São Paulo.

Sou neto de japoneses, nasci no Brasil e tenho a alma brasileira, mas o sangue continua japonês. Uma mistura que deu certo por aqui. Tem melhor combinação do que churrasco com oniguiri?? Fui criado assim, numa mescla das culturas brasileira e japonesa, freqüentando a escola primária durante o dia e o nihongakko em algumas tardes da semana. Aprendi a ler e escrever hiragana e katakana, mas, se aprendi a falar japonês, devo ter esquecido em algum momento da vida. Meu avô me dava aulas de japonês algumas noites por semana, mas, infelizmente, eu não sou tão inteligente quanto ele foi.

No Brasil, é difícil não ser contagiado pela magia do futebol e não foi diferente comigo. E por causa disto tive uma das maiores decepções da minha vida durante a Copa de 82. Mas, por outro lado, meu Santos já me deu muitas alegrias!!! Na TV e no videocassete, desenhos e filmes japoneses faziam a nossa cabeça: Ultra Seven, Ultra Man, Patrulha Estelar, Dr. Slump, Hachijidayo...

Assim, foi entre bonenkais e festas juninas, undokais e desfiles de Sete de Setembro, arroz/feijão e shirogohan/tsukemono, que aprendi a amar estas duas culturas tão diferentes, mas que se complementam perfeitamente.


Enviada em: 14/11/2007 | Última modificação: 14/11/2007
 
« Mudanças: nova profissão e a busca pelas raízes

 

Comentários

  1. Elke @ 15 Nov, 2007 : 15:46
    Adorei Tavinho! Os relatos do seu avô são um tesouro,... assim como essa deliciosa mistura que é a nossa vida de gerações e gerações de imigrantes. Vou querer uma ajuda para montar o roteiro da minha viagem ao Japão, heim?! bjos

  2. Ivi Paula @ 26 Nov, 2007 : 17:14
    Olá Otávio!! Muito bonito e comovente seu relato, parabéns pela nobre profissão que escolheu!!! Beijos!

  3. Sichão @ 26 Fev, 2008 : 00:46
    Tavinho!!! Quanto tempo!!! Lembra de mim? Tava lendo meus e-mails e recebi um da editora abril pra entrar nesse site! (não sei como eles sabiam q sou descendente) e comecei a ver fotos e histórias e nessa encontrei vc! Nossa! Adorei sua história e suas fotos! Parabéns! Felicidades! bjs

  4. Tati @ 31 Mar, 2008 : 14:52
    Oi, gostei d sua historia... meu pai tbm nasceu em Bastos.. meus avôs quandu vieram foram tbm pra Bastos tentar a vida lah.... bjuss

  5. Elisa K. @ 10 Abr, 2008 : 02:05
    Prezado Otávio, fico feliz ao conhecer um ativista como vc, de uma organização tão importante qto a de Médicos Sem Fronteiras. Faço minhas contribuições anuais, modestamente, a essa organização tão importante e emergente. Me fez feliz ao constatar que ainda há médicos com estes ideais, em tempos como estes. Um abraço.

  6. Rita de Cássia Arruda @ 11 Abr, 2008 : 07:30
    Otávio: Você é um brasileiro nota mil. Se tivéssemos mais pessoas como você, por aqui, nosso país certamente seria muito melhor. Seu trabalho junto a ONG Médicos Sem Fronteiras é louvável. Tenho certeza que aquelas pessoas com quem você tomou café, jogou futebol e cujas vidas salvou jamais se esquecerão de você. O diário de seu avó é uma preciosidade. As demais histórias que você contou aqui, comoventes. Obrigada por dividir conosco suas memórias. Parabéns pelo exemplo de vida !!! Um abraço.

  7. Klissia Tiba @ 1 Jul, 2008 : 10:37
    Otávio, parabéns pelo trabalho. Muito bom mesmo, o mundo seria bem melhor se todas as pessoas, ou pelo menos metade delas, fossem como vc. Um abraço.

  8. Juliana Hayakawa @ 16 Ago, 2008 : 12:50
    Olá Otavio! Não pude deixar de relatar a minha admiração por sua história e pelo seu trabalho! Acredito que todos nós descendentes temos uma história emocionante de nossos antepassados. É uma pena que na maioria das famílias estes fatos foram se perdendo...Este diário é precioso! É admirável o seu trabalho neste mundo em que vivemos. A luta por todos e pela vida! Parabéns!

  9. luceliaviana06@hotmail @ 30 Out, 2008 : 22:16
    olà Otavio não miconhece sou de loge parabeis vc merece .não sei se vc conhece macapá eu estou a procura um tratameto para mielomeningocele pois não tei cura se você sube e alquama coisa made para mim.gotei muito da sua hetoria

  10. Edison Norio Iwama @ 26 Mai, 2009 : 03:29
    Oi Otavio Omati Também sou médico e trabalho em Londrina – Pr. Observei que sua mãe, a Sra Fusae IWAMA Omati, possui como sobrenome IWAMA, gostaria de saber qual é a relação com a minha família, mesmo que distante. norio@sercomtel.com.br

  11. Tatiana @ 30 Mai, 2009 : 12:16
    putz cara essa visita ao seu perfil determinou minha vida cara,Omedetou Gozaimasu

  12. Silvio Sano @ 1 Jun, 2009 : 09:27
    Prezado Otávio. Parabéns pela sensibilidade, percepção e, principalmente, humildade ao relatar-nos sua história a partir do inestimável diário do ojiichan, que o levou a buscar se encontrar. Sensibilidade está em sua releitura do diário do ojiichan; percepção, na troca de carreira e no voluntarismo humanitário (Médicos Sem Fronteiras); e, humildade, pela narrativa que, por certo o transformará num multiplicador daquele sentimento muito raro, hoje em dia, da solidariedade. Um grande abraço.

  13. Jorge Santos @ 23 Mar, 2010 : 10:04
    Não tenho qualquer origem japonesa, mas curiosamente meus melhores amigos de juventude e faculdade foram japoneses. Tenho uma afeição especial por esse povo que com certeza semearam em nossa cultura princípos sadios de honestidade, trabalho, lealdade e amor. Otávio, embora tardiamente eu tenha lido essa matéria, se você ainda estiver lendo as mensagens que com certeza continuam te enviando, quero lhe expressar a profunda gratidão e respeito que tenho por vocês japoneses. Não sou médico, sou engenheiro, mas seu belo exemplo tocou fundo em mim e espero que possa penetrar fundo no coração de todo aquele que persiste em demontrar tanto amor ao próximo, movendo-nos a imitá-lo seja qual for o rumo que tomamos na vida. Obrigado, e embora não o conheça, tomo a liberdade de acrescentá-lo no rol dos leais amigos japoneses que tenho.

  14. Takeshi Misumi @ 23 Mar, 2010 : 14:22
    Caro Otávio Omati, Que leitura agradável! Num estilo simples, voce consegue levar o leitor à reflexão profunda. Admiro o respeito que voce tem pelos seus ancestrais. “Seguindo seu exemplo, espero chegar um dia a ser o grande homem que ele foi”. Quanta sabedoria! Voce já é um grande homem. Primeiro por perseguir o seu ideal a qualquer custo. “... decidi largar tudo e fazer algo totalmente diferente e ir atrás de um sonho.” Segundo por ter conseguido realizar o seu sonho. As realizações na Ásia e na Africa dizem tudo. Por favor continue escrevendo mais neste site.

  15. Patrícia @ 6 Jun, 2010 : 07:21
    Parabéns pelo seu trabalho e pela sua história de vida. Por favor, continue escrevendo mais para este site. Um grande abraço.

  16. Michele @ 9 Jun, 2010 : 11:57
    Olá Dr. Otávio Omati, gostaria de parabenizá-lo por dividir sua história conosco. Foi muito interessante ver que você tem respeito pelos seus ancestrais que hoje, infelizmente, isso está se perdendo. Foi admirável quando você disse que que queria estudar medicina e se dedicar um pouco mais aos outros, isso mostra que você tem um sentimento de solidariedade que, atualmente, é muito raro. Por favor, seja solidário aos nossos pedidos e continue escrevendo neste site. Um abraço.

  17. Maria Paula @ 13 Jun, 2010 : 07:06
    Virei sua fã. Escreva mais neste site.

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