Quando este projeto começou, em março do ano passado, ao pensar em meus motivos para me dedicar a ele voluntariamente, me lembrei do Anpanman (o primeiro vídeo acima é a abertura do desenho). O Ogawa, nosso diretor de núcleo de Quatro Rodas e Placar, vinha me explicando quais eram as expectativas dele para o site. E o que mais me emocionou foi a possibilidade de colocar no ar um projeto que realmente tivesse na alma oferecer espaço às histórias de vida dos imigrantes e seus descendentes. Utilizar o que havia de melhor na internet, de mais inovador, de mais adequado a este meio aberto para registrar a voz de personagens, eu e você, todos nós. E de quem amamos.
Na ponta inversa do mundo japa que herdei de meus antepassados está minha filha, a Veronique, que ganhou do meu pai o nome em nihongo Satsuki, azaléa, ou aquela que nasceu em maio, o mês cinco. Quando fomos morar no Japão, ela tinha oito meses (na foto, quando voltamos ao Brasil, ela já estava com quase três). Um bebê kawaii, todas as senhorinhas me paravam na rua pra brincar com ela. Lá, adorava assistir o Anpanman, desenho com um herói com cabeça de anpan, o bolinho recheado com doce de feijão (anko). Quase todos os personagens dessa série são comidas. Karepanman (pão de curry), Meronpannachian (pão de melão) e Shokupanman (pão de forma) eram os amigos heróis. Os vilões são o Baikinman (bactéria) e a Dokinchian (dokin, dokin, as batidas do coração). Eles até têm um museu em Yokohama.
Dessa época, temos em casa um dicionário com 1.300 personagens da série! Passeando pelas bancas de comidas nas ruas estreitas do bairro de Komagome, Kita-ku, em Tokyo, sempre tinha um pãozinho de anko com carinha de anpanman :) A Veronique ficava super feliz com ele, assim, de verdade. Ela aprendeu a desenhar a carinha dele em todos os lugares. Temos boneco, quebra-cabeça, os desenhos em vídeo, brinquedinhos, miniaturas, livros. E a música, então? Mega fofa, cantando com todos os outros bebês, a Verô andava superbonitinha com a camiseta do Anpanman (e da Hello Kitty).
Hoje ela tem onze anos. Mal se lembra do Japão. Mas ela se lembra exatamente da nossa sala minúscula, com todos os móveis - a TV - no chão. Contar como, da memória, fica o carinho por um surreal herói-cabeça-de-pão. Essa e outras histórias. Conte a sua também. :-)