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Fernanda Takai

Belo Horizonte / MG - Brasil
52 anos, cantora e compositora, vocalista da banda Pato Fu

As férias na casa dos avós japoneses


As pessoas me perguntavam qual é a diferença de ter avós japoneses. Eu dizia que, antes de serem meus avós japoneses, eles eram meus avós paternos simplesmente. Claro que quando eu passava um tempo na casa deles, tinha uma aura toda diferente, de comida, de decoração da casa, de hábitos, do banho do ofurô, mas isso para mim era tão normal. Boa parte das minhas férias eu passava em São José dos Campos (SP) com meus avós. Lá eu fazia um mergulho neste universo deles. Só com o tempo eu percebi que eu convivi muito com a minha família japonesa e fui assimilando e, ao mesmo tempo, achando isso tranqüilo e natural, como é no Brasil essa mistura das raças.

Era só estar de férias para todo mundo ir para a casa dos meus avós. Tinha todo um ritual, de acordar, tomar café todo mundo junto, fazer comida, acompanhar os avós no mercado, ajudar a picar verdurinhas (ouça o áudio em que Fernanda conta mais detalhes sobre as suas férias).

Os meus avós eram muito carinhosos com os netos. Quando eles sabiam que a gente ia chegar, só faziam as comidas que a gente gostava, comidas japonesas! Eu adorava sukiyaki, meu avô sempre fazia para mim. E a minha avozinha também separava o travesseirinho da cor que eu gostava, tudo bonito, cheiroso.

Em todo lugar que os meus pais moraram, seja na Bahia ou em Minas Gerais, a gente nunca tinha parentes por perto. Então, quando havia oportunidade de ver todos os primos, os tios e os avós, era tão bom, dava uma sensação de aconchego, vontade de fortalecer esses laços.

Por muitas vezes, a gente passou o Natal e o Ano Novo na casa dos meus avós. Era tradicional a gente comer lá, no primeiro dia do ano, o moti, um bolinho para grudar felicidade. Todo mundo comia moti, que é feito de arroz com shoyu. Tinha gente que gostava em sopa e tinha gente que gostava frito, e minha avó fazia os dois. Eu me lembro de todo mundo sentado à mesa, os mais pequenininhos e os mais velhos, todo mundo comendo moti para grudar felicidade. Achava bonitinho. É uma coisa que toda família japonesa faz, tem até uma cerimônia antes de pegar o bastão e amassar com o pilão. É bem simbólico. Eu, quando eu era pequena, já pegava amassadinho, já chegava para comer.

Apesar das tradições, como as festas de final de ano, meus avós não traziam muitas memórias do Japão, porque eles saíram de lá muito novos. Por mais que eles morassem na colônia e tivessem o convívio do idioma, eles tentavam muito falar o português com a gente. Eles sabiam que estavam no Brasil, país que tinha os acolhidos de uma forma tão bacana.

Até hoje, quando eu vou a São Paulo, o que me vem à cabeça são todas aquelas férias que eu passava com meus avós. Eu gostava muito daquele ambiente japonês. Meu avô morreu há poucos anos, minha avó continua viva e sempre vou visitá-la. Se eu tenho um compromisso em São Paulo, alugo um carro ou vou com minha prima a São José dos Campos.

Eu escrevi a história dos meus avós em um dos capítulos do meu livro Nunca Subestime uma Mulherzinha (Panda Books, 2007: https://pandabooks.websiteseguro.com/livros.php?id=229).

Depoimento à jornalista Sílvia Amélia de Araújo
Fotos: Eugênio Sávio e arquivo pessoal de Fernanda Takai
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes


Enviada em: 05/03/2008 | Última modificação: 07/03/2008
 
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Comentários

  1. Renato Yassuda @ 5 Mar, 2008 : 10:58
    Prezada Fernanda; Parabéns por seus depoimentos. Foi muito bom ler todos eles. O fato de naõ falar japonês também me deixa constrangido em algumas ocasiões. Também foi ótimo ver uma cantora que admiro aparecendo neste site. Parabéns.

  2. Kenji Arimura @ 6 Mar, 2008 : 11:47
    Oi Fernanda! Eu também me sinto um analfabeto aqui no Japão, é terrível! E por isso também me arrependo de não ter aprendido quando era mais novo. Sua intrevista foi inspiradora pra mim. Curti mesmo!

  3. Tati Kiyomi Moriya @ 7 Mar, 2008 : 12:24
    Olá! Já era fã da banda Pato Fu há um tempinho, qdo fui me tocar do pequeno detalhe: o sobrenome da Fernanda, era de descendência japonesa! Na hora achei isso suuuper bacana, pois fiquei super orgulhosa de uma artista q admiro tanto, ter um sobrenome da mesma descendência q eu!! Adoooorei todos os seus depoimentos, fernanda!! E conhecê-la assim só faz aumentar ainda mais minha admiração por ela e por sua arte!!!

  4. Rômulo Sotelo @ 8 Mar, 2008 : 17:07
    Fernanda, o Amapá se orgulha de vc...pois vc é natural daqui e nunca escondeu isso...Muitos que, ao longo do tempo conquistaram fama negam sua origem...Dizendo ser natural de estados do Sul ou Centro-oeste... Portanto, saiba que nós amapaenses admiramos não só o seu talento quanto a sua dignidade... Parabéns pelo sucesso... Um grande abraço do Estado do Amapá...!!!!!!!

  5. Hélio Shimada @ 10 Mar, 2008 : 14:11
    Fernanda, é bom encontrá-la neste espaço. Sou Geólogo e seu pai foi meu amigo. Nos encontrávamos de vez em quando pelos aeroportos do Brasil, sempre correndo atrás de minérios. Tinha até um grau distante de parentesco. Sua tia Vilma é casada com o ex-cunhado do meu tio Hiroaki Kokudai. Parabéns pelos rico conteúdo do seu perfil.

  6. Sonia Novaes @ 14 Mar, 2008 : 00:40
    Fernanda Li sua história e uma coisa me chamou atenção:voce disse que seus pais moraram perto de Lucélia...seria Maripá atualmente Pracinha,que foi distrito de Lucélia? Nasci nesse lugar e procuro amigos de infância da década de 50,60 e 70. Vou deixar meu e-mail para vc:novaesangelo@pop.com.br Estou escrevendo um livro,e seria muito importante obter essas informações. Um grande abraço... Sonia Novaes

  7. Roberto Kozuki @ 18 Mar, 2008 : 12:43
    sou geólogo como seu pai Vitório, e tive o prazer de conhecê-lo nas andanças e congressos pelo Brasil afora. Morei em Serra do Navio de 1977 a 1985 e pude passar os melhores momentos de minha vida lá. Apesar da falta de opção de lazer éramos muito unidos e qualquer coisa era motivo para diversão. Falando nisso, uma curiosidade me atormenta: por acaso o nome de seu conjunto tem alguma coisa a ver com o apelido do também geólogo Eurípedes Siqueira, violéiro dos "bão"que abrilhantava as tardes, noites e madrugadas da Serra do Navio juntamente com o Leonardo Boca? A pergunta é porque além do apelido de Goiano, ele tinha outro que era só para os mais íntimos (Pato Fudendo). Grande saudades desse tempo e dos amigos amapaenses que lá deixei (Jiro Maruo, Wladisney, Maranhão, Barroso, Rubinho,João Batista, Márcio Krueger, e assim por diante....) Um grande abraço do admirador e aos amapaenses que com certeza estarão conectados nesse depoimento.

  8. marcelo yukishrigue okawa @ 6 Abr, 2008 : 03:03
    marcelo sua irma eunice te procura

  9. Luís Henrique @ 18 Jun, 2008 : 11:05
    Sou de Jacobina, na Bahia....Jacobina é linda, como você era pequeneninha, não deve ter conhecido as belas cachoeiras e canyons...Jaco cresceu, faz uma visitinha lá q vc vai gostar!! abraços

  10. Mauro Hanashiro @ 27 Jun, 2008 : 13:26
    Fernanda, parabéns pelo depoimento e também pelo show que fez na Comemoração do Centenário da Imigração, foi simplesmente DEMAIS!!! Também sou descendente do Kasato Maru, meu tataravô materno foi um dos passageiros....abs.

  11. luiz claudio lima @ 10 Jul, 2008 : 16:21
    estou no rastro do teu pai. Vim de serra do navio e agora estou em corrego do sitio em iinas gerais. N�consegui corrigir a fonte. gostaria de saber mais sobre o YTakai que �eputado como um bom geologo e bom amigo por todos os que o conheceram. Gpstaria de ter contato com o Roberto |Kozuki que tambem foi meu contemporaneo em serra do navio. Tenho contato com juitas pessoas que moraram em serra do navio e agora residem em Belo horizonte e redondezas. um abra� luiz claudio lima - apelido biota.

  12. cunha.mg@consultoria.com.br @ 10 Jul, 2008 : 18:24
    Que emoçao fazer uma viagem em cem anos de historia. Resido em Belo Horizonte e confesso o meu apetite pela arte que nao contamina. A arte de ver frutos e perceber raízes fincadas junto as aguas profundas daqueles que pavimentaram nossa historia. Acabo de perder meu querido pai e digo que nada é tao sublime quanto a historia viva de um povo. Nossos pais são raises sublimes junto as aguas. Os filhos são troncos que alimentam netos e bisnetos que são nesta arvore os ramos e frutos. 100 anos de historia para o querido Atletico de Minas. 100 anos de nossos queridos antepassados japoneses. Fernanda fica como registro que seu canto exala o perfume daqueles que semearam nesta naçao uma linda historia de amor. Carlos Cunha. Escritor e Corretor de Imoveis. Cunha.mg@consultoria.com.br

  13. cunha.mg@consultoria.com.br @ 10 Jul, 2008 : 19:06
    Que bom saber que Fernanda Takai é fruto de um relacinamento tao sublime. Povos, raças, linguas e naçoes numa grande embarcaçao. O Brasil é este barco sublime que tem no bojo tantas vidas preciosas. Takai significa alto. Isto nos lembra aquele que disse: Quando for levantado da terra atrairei todos a mim! No dia 13 de Junho meu querido pai foi sepultado em Belo Horizonte. Com 83 anos deixou filhos, netos e bisnetos. Sua historia se assemelha a tantas outras e com ele aprendi o valor de respeitar e amar estrangeiros.Mesmo nao sendo Japones, meu pai amava este país. Lembro sua indignaçao pelas atrocidades cometidas na segunda guerra. Conservo reliquias memoraveis destes escritos sagrados. Amava meu querido pai e celebro algo que aprendo com a cultura japonesa. Devemos reverenciar aqueles que estao vivos e permanece para sempre em nossas lembranças. cunha.mg@consultoria.com.br

  14. Luiz Martins @ 11 Jul, 2008 : 14:31
    Faço parte do grande grupo de filhos dos funcionários da Icomi - Amapá. Como você, bebi "Guarasuco" no CCH. Parabéns por bem representar os amapaenses, assim como a Flávia Freire (da previsão do tempo do Jornal Hoje)! Tenho grande orgulho de ter dois filhos amapaenses, como você. Parabéns pelo belo trabalho cantando Nara Leão. Parabéns pelos 100 anos da imigração japonesa. Abraço cruzeirense. P.S. Uma curiosidade: qual era a sigla do seu pai na Icomi?

  15. japa pobre @ 25 Set, 2008 : 02:53
    sou fã dela

  16. fabiana @ 6 Out, 2008 : 11:54
    Vi as tuas fotos de quando bebê e adorei!!! Meus filhos também são mestiços, pois meu marido é um nissei. Adorei os teus comentários sobre como era conviver com os avós paternos e simplesmente foi como reviver todas as minhas férias com meus filhos na casa dos avós deles.

  17. Helio Takai @ 19 Nov, 2008 : 11:32
    Olá, na minha última viagem ao Brasil comprei o CD com várias canções brasileiras (oldies). Gostei muito. Eu não sei as nossas famílias são relacionadas. Apesar do nome ser o mesmo você saberia o ideograma do seu nome? Abraços, (helio.takai -at- gmail.com)

  18. Maria Luiza Kimura @ 26 Nov, 2008 : 18:43
    Oi Fernanda, sou sua fã e agora a minha admiração por você aumentou... linda a sua história! Também sou de origem japonesa(pai) e italiana(mãe),tenho muito orgulho da minha descendência, pois herdei e aprendi muito tanto do lado paterno como materno. Acho que só temos a agradecer. Abraços

  19. cléo araújo @ 21 Jan, 2009 : 10:02
    Que bom, Fernanda, ver vc repetidas vezes declarar ser do amapá. isto prova que fazer sucesso independe do local de nascimento. Volte, um dia, p fazer um show na europa amapaense: Serra do Navio.

  20. joana nemoto @ 10 Mar, 2009 : 19:01
    Você deve ter orgulho de sua parte japonesa como eu tenho da minha, sou mestiça, meu pai veio pra cá com 20 anos em um navio no ano de 1954. O Japão é lindo!!!! Parabéns pela sua voz e sua história. Abraços

  21. Karina Novaes @ 30 Out, 2009 : 22:43
    Pessoal, alguem tem alguma dica, de como baixar o video ao lado? Estou fazendo um documentario da Fernanda Takai, Gostaria de Anexar essi video.

  22. Dora @ 12 Jul, 2011 : 07:29
    Always the best content from these prodigious wrrites.

  23. wiscar@terra.com.br @ 1 Dez, 2011 : 18:49
    Fernanda, Foi uma surpresa e um prazer ver seu depoimento nesse site, ao qual cheguei meio sem querer. Tenho lembranças e, realmente, saudades de seu pai, com quem muito trabalhei e viajei geologicamente por esse Brasil grandão, aí pelo Amapá, Bahia, Ceará, Pará e Minas Gerais e outros estados. Até hoje lembro-me do único dia em que vesti paletó e gravata em Serra do Navio: foi no casamento de seus pais. Que festa. Estávamos querendo colocar a "Cavalaria Rusticana", mas não deixaram. A quem perguntou qual a sigla do Vitório na ICOMI, ei-la: TAK. Essa sigla era também usada na Unigeo. O Brasil é ótimo país para imigrantes: eu sou descendente de italianos, o Vitório de japoneses, mas para nós dois a diferença que valia era que ele era corintiano e eu palmeirense. Um abração, Wilson Scarpelli Geólogo, como seu pai

  24. maria @ 7 Fev, 2012 : 18:59
    hola fernanda eu sou uma fan de voce e pato fu.eu gosto muito das musicas cancao que voce canta. ten uma voz muito suave e as cancoes sao pegadizas. bom eu sou paulista brasileira mais moro na argentina faz anos, fiquei muito triste de saber que tinhan chegado en buenos aires, argentina e actuando. cuando supimos que tinhan chegado aqui pra actuar ya era tarde, ya voltaran pro brasil.bom tanta propaganda eu fiz de pato fu e nao chegamos a saber que estiveran por aqui. bom eu gostaria de saber si pato fu ) vai vim otra vez pra actuar na argentina buenos aires en 2012).de ser asim se poden fazer algun aviso pra gente poder ir a ver sua actuacao.muito obrigada e envio pra voce e sua familia e conjunto os mais sinceros saludos un abrazo maria e juan.

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As férias de infância na casa dos avós japoneses

30.000 Pés (Fernanda Takai/John Ulhoa). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore

Mamã Papá (Fernanda Takai/John Ulhoa/Rubinho Troll). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore

Vagalume (Fernanda Takai/John Ulhoa). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore

 

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