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Emilie Sugai

São Paulo / SP - Brasil
58 anos, coreógrafa e dançarina

A descoberta da dança


Fui fazer administração na FEA/USP (Faculdade de Economia e Administração) e naquela época eu já dançava jazz, moderno e balé clássico. Estudar a cultura japonesa não era um objetivo para mim. Aquilo fazia parte da minha história familiar, mas era apenas um rastro na minha vida. Só que na seqüência eu conheci uma chinesa que dava aula de tai chi chuan. Ela foi uma das pessoas que trouxe um pouco da cultura oriental para a minha vida. Com ela montamos uma lenda chinesa. Em 1991, encontrei o diretor de teatro e dança Takao Kusuno e sua mulher, Felicia Ogawa. Ele era japonês radicado no Brasil desde 1977 e ela, nissei. Takao foi o precursor da dança butô no país.

A partir do encontro com esse casal, conheci uma outra forma de trabalhar a dança. Apesar de ter suas origens na tradição japonesa, eles traziam uma expressão muito contemporânea para época, que fazia parte de um movimento do pós-guerra que uniu artistas plásticos, dançarinos, fotógrafos. Ele tinha um olhar especial para o corpo do japonês, então ele me trouxe vários conceitos do Japão, me incentivou a buscar minhas origens orientais. Aí que fui percebendo o valor disso tudo. Então fiz um trabalho, em 2002, o Tabi, que significa viagem, uma jornada em busca das minhas origens. Ele foi executado antes de eu realmente conhecer o Japão. É uma idéia minha, criativa e artística, da minha experiência de ter o corpo e o sangue japonês, mas ser brasileira. O espetáculo foi realizado no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, durante o evento Dança em Pauta.

Eu achava que minha primeira viagem ao exterior seria para o Japão, mas ganhei uma bolsa da Unesco para fazer um trabalho no Senegal, na África. Foi um choque cultural muito grande. Meu olhar estava voltado para o oriente, para o Japão, e, de repente eu me vejo na África, que faz parte das origens brasileiras. Isso deu uma chacoalhada na minha vida. Lá eu trabalhei com os senegaleses. Voltando para cá realizei um trabalho solo, o Totem, traduzindo essa experiência. Nesse estudo fiz uma ponte entre o trabalho japonês e o africano. Ambos usam as máscaras, mas de formas diferentes.

Outra questão que me chamou a atenção e abordei no espetáculo foi a utilização das bacias de alumínio, que os orientais usavam para tomar banho e os africanos, para fazer e colocar comida. As comidas são compartilhadas. No Senegal, todo mundo comia com a mão direita e cada um tinha o pedaço onde ia comer. Isso me lembra muito as comidas japonesas que nós fazemos ao redor da mesa, como o sukiyaki (ouça um trecho da trilha sonora do Totem).

Minha primeira viagem para o Japão, em outubro de 2003, foi bem importante, porque a Companhia Tamanduá de Dança Teatro foi levar trabalhos feitos pelo diretor Takao Kusuno, já falecido, com dançarinos brasileiros. Nós visitamos e dormimos no estúdio do Kazuo Ohno, mestre do butô. Em 2005 voltei para o Japão com um trabalho feito pelo Antunes Filho, chamado Foi Carmem Miranda, uma homenagem aos 99 anos do Kazuo Ohno. No mesmo ano voltei ao país com um grupo japonês para o qual fiz uma audição. Dessa vez senti mesmo na pele o que era viver no Japão no sistema japonês. Nossa agenda não tinha um momento de descanso porque tínhamos que terminar a obra em um tempo muito curto.

Tenho um sonho e um desafio que é reativar esse espaço da minha avó para desenvolver um trabalho artístico voltado para a sociedade e perpetuar as crenças da minha avó, de uma escola para crianças, só que agora de uma maneira mais ampla. E juntar isso a um sonho do meu mestre japonês, que era de ter um espaço dedicado à arte.

Depoimento à jornalista Juliana Almeida
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Emilie Sugai
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes


Enviada em: 26/10/2007 | Última modificação: 31/10/2007
 
Infância e adolescência »

 

Comentários

  1. miriam hirata karassawa @ 28 Nov, 2007 : 02:34
    Já tinha lido o seu depoimento, despertando uma grande curiosidade em conhecer o seu trabalho. Coisas do acaso!!! a conheci na Fundação Japão, no curso de Christine Greiner. Fui apresentada a vc pela Akiko. Quando acontecer alguma apresentação, por favor avise-me ok. Fico no aguardo. bjs

  2. Emilie Sugai @ 6 Dez, 2007 : 12:21
    Olá, Miriam ano que vem estarei com dois trabalhos: estreando meu novo solo inspirado na peça de teatro Nô "HAGOROMO" de Zeami; e participando do teatro-dança de Antunes Filho "Foi Carmen Miranda", que homenageia o mestre de dança butoh Kazuo Ohno. Os dois trabalhos serão apresentados meados de fevereiro/março de 2008, mas no momento não tenho a definição das datas. Avisarei-a oportunamente. bjs

  3. [um amigo] @ 11 Mar, 2008 : 03:29
    Emilie: Paz, Felicidades, Excelência em projetos vindouros e... [Lua silencia / Ao som de mares intensos / Ondas não se quebram.] Lembranças!

  4. Renato Yassuda @ 12 Mar, 2008 : 14:56
    Prezada Emilie; Parabéns pelos depoimentos e obrigado por compartilhar suas impressões conosco. Pelo conteúdo deles, parece que você encontrou e percorre seu caminho com bastante satisfação e sucesso. Um fato interessante é que nos descendentes de japoneses temos uma certa dificuldade em nos definirmos quanto a nós mesmos. Parece que durante muito tempo existe um duelo para definir o que somos. Somente quando entendemos e aceitamos o fato inquestionável que somos brasileiros, com um espírito japones é que a tranquilidade e a harmonia passam a existir. Existem infelizmente algumas ocasiões que nos cobram por esperar comportamentos japoneses, o que não somos.Por outro lado, como brasileiros esperam de nós reações típicas de japoneses, o que, mais uma vez não somos. Também admiro artes marciais e objetos como espadas japonesas (kataná), mas ao contrário dos que todos dizem, não tenho estes gostos somente por ser filho de japoneses e sim porque sou brasileiro e me identifico com valores como Honestidade, Coragem, Gratidão, Honra e Humanidade. Estes valores são comuns a diversos seres humanos e não a povos ou raças específicas. Divulgue sempre os bons valores para a humanidade. Atenciosamente; Renato Yassuda

  5. Mônica @ 16 Jun, 2008 : 16:43
    Belo depoimento Mi, gostei de saber mais da história de vocês. Parabéns por "Foi Carmen", estou orgulhosa de ti. bj

  6. Pamela @ 25 Jun, 2008 : 13:10
    Ola',Emilie. Vi fotos de espetaculos seus e me interessei. Gostaria de saber se voce vira ao Japao ate outubro do ano que vem? Abracos

  7. Patricia @ 28 Jul, 2008 : 12:26
    Caríssima Emile, assisti neste final de semana ao seu espetáculo Hagoromo, confesso que fiquei muito impressionada com seu talento, com a leveza e, ao mesmo tempo, a intensidade dos seus movimentos. Façanha para poucos. A dança da deusa da Lua foi incrivelmente lunar, lindo, poético, sublime. Assisti a duas montagens dessa peça, dentre elas o Noh clássicão. A sua performance é criativa sem as histerias que as montagens contemporâneas costumam portar. É uma história muito importante para mim, que sou xintoísta. Parabéns, você é uma grande artista. Se você tiver um mailing list para divulgar seus trabalhos, por favor me adicione.

  8. ERICA MARQUES @ 7 Abr, 2010 : 12:00
    OLÁ EMILIE SAUDADES SE LEMBRA DE MIM AINDA ERICA DO TIMOL CREIO QUE SIM ADORO VOCÊ VC ME ENSINOU MUITAS COISAS SOU SUA FÃ VIU BEIJINHOS E ABRAÇOS BEM APERTADO AHH ESTOU MORANDO EM UBERLANDIA PERTINHO DE GOIAS QUANDO PASSAR POR AQUI ME AVISA PARA ME FAZER UMA VISITA ERICAMARQUESSOARES@HOTMAIL.COM ME ADD ORKUT ERICA MARQUES E LUIZ PAULO BEIJOS

  9. Pedro Sugai @ 26 Nov, 2010 : 19:16
    nossa q medo achu q tenho um avo com o nome teiji sugai msm q a minha vó tava falando pra mim =O. e minha vó morava em maua na época da adolescencia do meu pai e depois foi para santos com meu avo.Conhecidencia. . .

  10. Pedro Sugai @ 26 Nov, 2010 : 19:16
    talvez sejamos parentes =D

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