Conte sua história › Chiaki Ishii › Minha história
Quando eu trouxe a medalha, uns amigos se juntaram para me ajudar a montar uma academia de judô na Lapa. Eram quinze amigos, tudo judoca, e cada um pagou uma parte do terreno de 300 metros. Eles deixaram a escritura em meu nome. Depois que eu ganhei o título, muita gente veio se matricular. Quase 20 mil alunos já passaram por aqui. Quem quer ganhar medalha, vem na minha academia. Aqui nasceram vários campeões. Para ganhar medalha, judoca tem que ter fome. E japonês não tem fome, é tudo rico. Quando começa a ganhar dinheiro, afasta do judô. Mas brasileiro tem garra.
As minhas três filhas fui eu mesmo que treinei. Todas chegaram à faixa preta. Só a do meio, Luiza, é que não gostava muito de judô. Foi estudar administração. Tânia, a mais velha, competiu em Barcelona e foi morar nos Estados Unidos. Vânia, a caçula, competiu em Sydney e em Atenas. No total, ela esteve seis vezes no Mundial, duas vezes nas Olimpíadas e quatro vez no Pan. E eu sempre vou lá torcer.
Para o Japão, vou só de vez em quando. Morar lá, não quero mais. Ainda é a minha terra natal, ainda tenho família: irmãos, irmãs, todo o mundo mora lá. Mas eu já me acostumei com o Brasil. Japonês vê brasileiro e não respeita, acha que veio ganhar dinheiro. Meus irmãos dizem para mim: “você não pode falar que é do Brasil. Brasileiro é ladrão, criminoso. Você tem que dizer que veio dos Estados Unidos.” Eu fico chateado, brigo muito. Uma semana lá e eu já quero voltar. Fiquei brasileiro, né?
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Chiaki Ishii
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil