Reportagens › O desafio do ideograma
DA REDAÇÃO
Haroldo de Campos, tradutor e erudito, descobre os sutis poemas japoneses
Quarenta anos metade dos quais dedicados à poesia, quinze livros publicados, citado em universidades americanas como formulador do concretismo, Haroldo Eurico Browne de Campos - "sangue de português, irlandês e baiano" - acaba de lançar sua 16ª obra: "A Arte no Horizonte do Provável" (Editôra Perspectiva, 233 páginas, NCr$ 12,00). Bacharel em direito "como quase todo brasileiro". êle concilia, no bairro das Perdizes, em São Paulo, sua especiatidade (Direito Administrativo) com uma dedicação múltipla à poesia, à lingüística, à tradução. Em 1956 integrou com seu irmão Augusto e o póeta Décio Pignatari o trio lançador da "Teoria da Poesia Concreta". Na Itália êle é considerado um predecessor do ensaísta Umberto Eco, formulador da teoria da obra de arte como um convite para ser completada pelo leitor. Em Portugal lançou traduções do poeta Ezra Pound ("no Brasil, só o Ministério da Educação teve interesse em publicar uma edição limitada em 1960"). Até na Rússia seu nome foi mencionado como um dos tradutores de grades poetas russos, como Maiakovski e Blok. E com um estudante de grego da Universidade de São Paulo Haroldo de Campos fêz o poeta clássico Píndaro falar em português brasileiro, eloqüente e atual.
Tradução é criação - Neste último livro, Haroldo de Campos amplia sua paixão pela tradução: "Vejo o problema da tradução dentro de uma perspectiva moderna, isto é, como uma forma verdadeira de criação, um dos raros elos capazes de superar as barreiras de culturas diferentes, de países diversos". O cosmopolita Haroldo de Campos agora ingressa numa área de tradução desafiadora: a dos poemas japonêses. São vários hai-kais que êle comenta e verte para o português, dispondo as estrofes de forma especial, para captar parte do elemento visual - tão importante na poesia oriental quanto o conteúdo das palavras que a campõem. "A caligrafia é um elemento que conta como valor estético no poema japonês. "Lendo Pound, que traduziu poemas chineses para o inglês, o poeta e crítico paulista quis saber qual a mecânica do ideograma. "Matriculei-me, desde 1956, na Associação Cultural Brasil Japão e meu professor foi o baiano José Santana do Carmo, que, mesmo sem ter nunca ido ao Japão, domina o idioma japonês de maneira magistral, inclusive o japonês escrita. "Cada ideograma, em japonês, é a representação gráfica de uma idéia, não a representação dos sons de uma palavra como no nosso alfabeto ocidental.
Slogan pode ser arte – A literatura, para ele, não conhece fronteiras nem geográficas nem de gênero: "Um simples slogan publicitário pode ser poesia da melhor qualidade". Além disso, há uma interligação crescente das artes: “A literatura não é um compartimento estanque. O contato com a música e a pintura foi fundamental para a poesia concreta e esta se interessa pelas letras de Caetano Veloso e Gilberto Gil". Haroldo dá agora os toques finais ao seu 17º lançamento: uma antologia da "Poesia Universal de Invenção", que vem preparando há vinte anos com seu irmão Augusto e com Pignatari: "da antiguidade clássica aos dias atuais".
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil