Reportagens › Imigração japonesa comemora nove décadas
Maior colônia nipônica fora do Japão, o Brasil incorporou uma série de costumes e tradições desse país que podem dar bons frutos em sala de aula
Museu Histórico da Imigração Japonesa
Dia 18 de junho de 1908: o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos (SP) trazendo os primeiros habitantes de olhos puxados. A bordo, 781 pessoas fugiam da falta de emprego no Japão em busca de novas oportunidades. Aqui, logo foram encaminhadas às fazendas paulistas de café.
Noventa anos após o início da imigração japonesa ao Brasil, o tema promete ser destaque. Trata-se, portanto, de uma boa oportunidade para abordar a influência dos japoneses e demais imigrantes na formação do povo brasileiro.
O pico da imigração japonesa ocorreu nos anos 20 e 30, quando mais de 140 mil nipônicos desembarcaram no país. Durante a II Guerra (1939-1945), esse movimento estancou, voltando a tomar impulso em 1951 com a chegada do Kobe Maru. Em 1965, outros 46 mil japoneses vieram oferecer mão-de-obra. Hoje, abrigamos a maior colônia nipônica fora do Japão: são cerca de 1,3 milhão de pessoas, entre japoneses e descendentes. Perto de 70% se concentramHabituados a extrair o máximo de um mínimo de espaço, os japoneses nos legaram várias técnicas de cultivo, como a rotação de culturas e a hidroponia (plantio em água),e implantaram novas espécies, como a soja. Além dos campos agrícolas, marcaram presença nas artes plásticas (com a pintura abstrata), divulgaram o origami (dobradura de papel) e o ikebana (técnica de arranjos florais). Na culinária, transmitiram uma alimentação equilibrada, à base de arroz, peixe, soja e legumes. Na religião, propagaram o xintoismo, o budismo e o seisho-no-iê. Nos hábitos domésticos, introduziram o tatami (esteira), o quimono, as tijelas e o hashi (palito-talher). E, nos esportes, divulgaram o karatê, o sumô e o judô, prática que nos rendeu destaque mundial.
A chegada dos japoneses é um bom mote para falar dos outros imigrantes que deram cara nova ao país. Primeiro foram os portugueses, que chegaram a partir do século 16. Por volta de 1850, alemães fundaram comunidades no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul,
Educação Artística
O Sol nascente em quadrinhos
Para apresentar a cultura japonesa às suas turmas de 7ª e 8ª série, a arte-educadora Débora Almada usou histórias em quadrinhos. “É uma forma de expressão valorizada por alunos dessa idade”, observa Débora, que dá aulas na Escola Viver, de Itanhaém (SP). Entre tantas produções do gênero, a professora escolheu a revista Lobo Solitário (Editora Nova Sampa, tel. 011/5589-7197). Criada por Kazuo Koike e Goseki Kojima, a obra é sucesso no Japão desde os anos 70 e foi publicada no Brasil pela primeira vez em 1988.
Contando as aventuras de Ito Ogami, um samurai desonrado, as histórias de Lobo Solitário retratam o Japão antigo. Além disso, o desenho lembra os traços de gravuras japonesas tradicionais. “Por esses motivos, é um interessante instrumento didático para conciliar história e arte”, avalia Débora. Se o professor preferir trabalhar com outro quadrinho japonês, deve levar em conta essas mesmas características.
Após discutir o enredo da história, Débora incentiva os alunos a produzir seus próprios quadrinhos, fazendo uma releitura da cultura japonesa. “No final, as produções são expostas na escola”, diz a professora.
História e Português
De 5ª a 8ª série
Uma aula nas ondas do Rádio
Quem quiser aproveitar a data para explorar a imigração em linhas gerais pode usar a sugestão do professor de História Silvio Boccia Pinto de Oliveira Sá, da Escola da Vila,
Para começar, divida a turma em grupos e proponha uma pesquisa sobre os principais imigrantes — japoneses, italianos, alemães, portugueses. Nesse levantamento, é preciso descobrir quando e como cada grupo de estrangeiros chegou ao Brasil, onde se fixou, em que atividades trabalhou, como foi a adaptação à nova terra, que influências exerceu sobre nossa cultura e assim por diante.
Após essa fase, que pode demorar quase um mês, cada grupo apresenta ao resto da turma os resultados de sua pesquisa. De posse das informações, os alunos terão condições de criar um roteiro de radionovela usando o tema “imigrantes”. Nessa hora, será necessária a participação do professor de Português, para explicar como se elabora um roteiro, ressalta Silvio Boccia.
As radionovelas, gravadas em fita cassete comum, deverão ter a duração máxima de dez minutos e usar músicas, efeitos sonoros e expressões típicas da nacionalidade focalizada. O professor ainda lembra que todas as produções poderão ser apresentadas junto com uma exposição de objetos de época (fotos e utensílios domésticos, por exemplo), coletados pelos alunos.
Geografia
7ª e 8ª série
Diário de um Imigrante
Criatividade e muita informação formam a receita de sala de aula do professor de Geografia Ulisses José Rodrigues, da Escola da Vila, em São Paulo. Ele sugere reunir, por meio de pesquisas monitoradas, dados físicos, humanos e econômicos sobre os países de origem dos estrangeiros instalados no Brasil. Depois, a proposta é que grupos de alunos organizem diários de imigração. Ou seja, um deles pode incorporar o papel de um japonês recém-chegado, enquanto outro se imagina na pele de um italiano ou de um alemão. No final, os alunos anotam em um diário suas impressões sobre a terra desconhecida.
Todos os diários deverão conter informações variadas, como as diferenças de paisagem, de clima, de hábitos e costumes entre o país abandonado e o adotado como novo lar. “Um japonês que emigra de uma região muito fria com certeza destacará em seu diário a dificuldade em se adaptar às temperaturas quentes do clima tropical”, exemplifica o professor.
Para fazer o contraponto com a imigração nipônica, Ulisses propõe que um grupo de alunos assuma o papel de um descendente de japoneses que, nos dias de hoje, realiza o caminho inverso - vai morar no Japão para trabalhar e juntar dinheiro, mas acaba passando maus bocados. São os chamados dekasseguis, imigrantes brasileiros que tentam a sorte no país do Sol nascente. “A atividade pode ser um ótimo instrumento de comparação entre as culturas”, afirma o professor.
Os alunos precisarão soltar sua criatividade para representar os papéis, mas vão aprender Geografia.
Educação Artística, História, Português e Geografia
Pré-escola
Viagem ao Japão
Modos de Vida. Este é o nome do projeto desenvolvido pela professora Roseli Silva, da Escola Viver, que visa iniciar pré-escolares no estudo da imigração japonesa. Multidisciplinar, o projeto abarca atividades de Português, História, Geografia e Educação Artística.
A atividade começa com a leitura do livro Keiko, de Cristina Von (Editora Callis, tel. 011/822-2066). A protagonista é japonesa e veio ao Brasil com a família para trabalhar na lavoura. Depois de interpretar a obra, os alunos debatem as diversidades entre o Brasil e o Japão. Até yakisoba e sushi, pratos da culinária japonesa, são levados à escola para demonstrar que os ingredientes e a estética dos pratos são diferentes.
Tudo isso, mais um pouco de História e Geografia nipônica, ajudam as crianças a entender por que os japoneses vieram para cá. Ao final, as crianças produzem trabalhos artísticos — entre eles, desenhos e esculturas em argila. Como aprendem que no Japão se faz papel de arroz, até papel reciclado é confeccionado em classe.
Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
Conte sua história em vídeos, fotos, áudios e texto Monte a árvore genealógica
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil