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CAIO FERNANDO ABREU
MEMÓRIAS DE UM IMIGRANTE JAPONÊS NO BRASIL, de Tomoo Handa; T. A. Queiroz Editor e Centro de Estudos Nipo-Brasileiros; 220 páginas
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Memórias: sem a mesma emoção de “Gaijin”
Foi em 1908 que chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes japoneses. Limpos e educados, eles usavam roupas européias e alguns dos homens, ex-combatentes da guerra russo-japonesa, traziam suas condecorações no peito. Aparentemente, era o bonito e até mesmo poético início da longa história da colonização japonesa no Brasil. Em seguida viriam os problemas: da alimentação, grosseira e inadequada ao delicado paladar oriental, ao duro trabalho nas fazendas de café e o confronto com a mentalidade opressora dos patrões. Tratados cada vez mais como escravos assalariados, muitos contam ter trabalhado "debaixo das chicotadas do fiscal".
Sem emoção - Numa linguagem clara, acessível e sempre objetiva, o velho imigrante Tomoo Handa, inicialmente colono das lavouras brasileiras e atualmente artista plástico e ensaísta, reúne neste livro as histórias de seus compatriotas. Em traços largos, descreve desde as condições geográficas e econômicas das fazendas ocupadas, descendo às vezes a minúcias, como a lavagem da roupa, a feitura do colchão ou a colocação do cabo da enxada.
Haverá talvez quem se ressinta da ausência de emoção nesses relatos – ao contrário, por exemplo, do que acontece no filme "Gaijin", de Tizuka Yamazaki, que trata do mesmo tema. É difícil ler o livro, como quer a contracapa, "como um romance ou como que ouvindo uma conversa descontraída ao pé do fogo". Sem o apaixonado clima do filme, estas memórias, que omitem acontecimentos ou conflitos pessoais, podem parecer um tanto tediosas ou, no mínimo, frias. Mas certamente cumprem sua função de esclarecer um período importante da história brasileira.
Os japoneses chegaram aqui há um século. Desde junho de 1908, muita coisa aconteceu. Ajude a resgatar essa memória.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil