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Alec Ichiro Ito

São Paulo / São Paulo - Brasil
35 anos, Estudante

Faz sentido?


Me pergunto: faz sentido postar esta mensagem sendo que o centenário já se foi?

Racionalmente; não. Mas, como muitas vezes raciocinar demais é pensar "demenos", resolvi postá-la. Afinal, fazer aquelas coisas menos obvias da vida certas vezes é bom; quebra o gelo, sabe...

... Então, sem mais delongas. A estória (sic) que irei contar a seguir aconteceu a muito, muito tempo atrás. Data de quando morar em Pinheiros era morar em "pinheiros"; e a cidade da garoa tinha ainda aquele charme das esquina concréticas, de baianos à solta e a Liberdade dos japoneses expressas em suas luminárias orientais. Minha e de muitos outros, "Sampa" já cantadada tantas vezes e imortalizada.
Foi nessa cidade que mamãe e papai estudaram; mais especificamente na USP, A Universidade de São Paulo. Às vezes acho que a USP é totalmente oriental, mas me engano; os japas é que são totalmente "uspeanos". É quase impossivel entrar na cidade universitária e não ver se quer um de nós, seja aluno, professor ou "corredor" dos finais de semana. Mas mesmo assim, a USP não tem a cara de nikkei, mas justamente o contrário. É o que acho. Bom, deixa prá lá.

Papai um dia estava no CP-USP, que é uma espécie de "clube" da Universidade de São Paulo. Quando não estava estudando, que era prativamente nunca, ele confraternizava com os amigos lá no "CP"; jogava ping-pong, pebolin (não sei se é assim se que escreve), tennis e, acima de tudo, ficava de "papo para ar". Era, no fundo, no que ele era melhor; não porque fosse preguiçoso, mas sim porque era terrivelmente péssimo nas outras modalidades.
Foi depois de uma hora e meia de "papo pro ar" e três garrafas de tubaina (de acordo com um professor meu, tubaina "da barato") que um de seus amigos, um tal de Ênio Katayama, o convidou para passar as férias na casa de seus pais, lá em Guararapes.
Era um daqueles convites meio "da boca pra fora"; você sabe, depois de muita tubaina, qualquer um diz qualquer coisa sem ao menos pensar no que fala.
Mas para papai, que na época não era papai, mas apenas Kenji, ou "Kendão" para os mais chegados, convite era convite, e ele não era de fazer desfeita. Arrumou sua trouxa de roupas; um amontoado de camisas "coladinhas", uma jaqueta de couro e duas calças boca de sino, pegou seu Ray-Ban verde ôcre e se mandou para Guararapes no seu Fusca ano 65.
Chegando lá, depois de muito procurar a casa dos Katayamas, chegou em um sítio bem distante da área urbana. Não se via basicamente nada nas redondezas, a não ser um monte de árvores e uma casa bem simples de alvenaria. Uma mocinha minuscula jazia pregando roupas no varal que permanecia atravessado na frente do pátio das visitas.
"Olá, o senhor Ênio se encontra?", indagou polidamente o estrangeiro. A mocinha não soube responder. Primeiro porque achou muito gozadoa roupa do yankee que lhe batia a porta; segundo porque o único senhor dali era "Katayama san", "Seu Tadashi" para os mais desavisados, chefe dos Katayamas por alí. Mas, claramente, não poderia ficar alí com um cara de porta para o estrangeiro. Era muito desrespeitoso.
"Ênio é meu irmão", foi a resposta. "Ah...., será que eu posso falar com ele?...", foi a contra-resposta. "É claro, deixa que eu vou chamá-lo pra vc."

E foi assim que meu pai conheceu minha mãe. Legal, né? Na verdade, não foi bem assim que tudo ocorreu, porque eu inventei boa parte da história. Porém sempre que minha mãe me fala sobre como conheceu meu pai eu a imagino desse jeito; de um modo meio estranho e casual, mas ao mesmo tempo encantador e meio que "ao acaso". Ao meu ver, bem como os filhos esperam que seus pais tenham se conhecido.

Em fim, era isso que eu queria postar. Não sei se irei tornar a escrever aqui outra vez, pois o centenário já se foi. Quem sabe daqui a cem anos...

Só queria deixar um recado ao seu Ademir Fraguglia Quental, amigo de mau pai e meu agora também. Gostaria de agradecer a carta que o senhor me mandou e dizer que suas palavras foram muito inspiradoras e me fizeram refletir muito. Muito obrigado; reverências minhas e do prof. Charles! (a propósito, ele existe mesmo).


Enviada em: 13/10/2008 | Última modificação: 13/10/2008
 
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Comentários

  1. Ricardo @ 4 Mar, 2008 : 23:09
    Ha! Post infame, primão! Mas desde quando vc tem esse ichiro no nome?

  2. Minoru @ 9 Mar, 2008 : 21:35
    Caro sobrinho Ichiro. (Não sabia que era voce, Alec.) Muito legal a seu depoimento sobre seus pais, contudo faltou dizer que o seu irmão "japa nerd" faz medicina Pinheiros.

  3. Ademir Fraguglia Quental @ 22 Out, 2008 : 16:35
    Obrigado, meu mais novo velho amigo, pela delicadeza e gentileza em ler e responder.

  4. Ademir Fraguglia Quental @ 23 Out, 2008 : 17:19
    Obrigado, meu mais novo velho amigo, pela gentileza e delicadeza em ler e responder. Lembrancas a seu pai e sucesso para você e toda a sua família.

  5. raika @ 13 Mai, 2009 : 13:06
    Ola que bonitinho!!! o meu filhote tem o nome de Alec também que acho fofo ,simples e diferente!!bejão da raika

  6. Mario Katsuhiko Kimura @ 13 Mai, 2009 : 14:28
    Caro Alec Ichiro Ito, Gostei das suas historias, bastante hilariantes e pelo jeito, do acidente de percurso (encontro de seus pais) nasceram você e seu mano. Interessante a sua narrativa, não deixa de ser uma homenagem aos seus pais, são historias que juntam as demais que engrandecem esta página em comemoração ao centenário da imigração japonesa no Brasil, ainda mais valorizadas em razão de quem conta é um jovem yonsei. Parabéns e espero que continue a escrever não obstante o centenário já tenha passado. Muita saude e sucesso no que venha a fazer.

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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil

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