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18 Mar, 2008

Pedacinho do Brasil

Ewerthon Tobace

A primeira vez que pisei no conjunto habitacional Homi, em Toyota (Aichi), foi em 2004. Ainda havia alguns problemas de convivência entre japoneses e estrangeiros, mas nem de longe lembrava aquela época tenebrosa, quando a polícia passava por lá todo dia e havia brigas entre grupos de jovens.

Passados quase quatro anos desde a minha primeira visita ao local, as coisas mudaram mais ainda. Nesta última passagem pelo bairro, fiquei impressionado com o clima de “Brasil” que paira sob o lugar. Para começar, são quase 4 mil brasileiros entre os 9 mil moradores locais. O português é quase que o idioma oficial dali. Sente-se no ar o cheiro de tempero brasileiro, todas as placas são bilíngues português-japonês, há um centro comercial todinho verde-amarelo (com direito a academia de ginástica, escola, lanchonete e até churrascaria) e vê-se nas ruas crianças brincando livremente.

Ouvir o chiado da panela de pressão aqui e acolá deu um ar de realismo assustador: será que estava no Brasil mesmo?, questionei-me num momento de total insensatez.

Fiquei por lá um dia inteiro. Ouvi muitas histórias de brasileiros do conjunto habitacional mais famoso na comunidade e deu para ver que o passado agitado e até violento ficou realmente lá para trás mesmo. Hoje, a convivência entre japoneses e brasileiros é pacífica, graças aos muitos projetos sociais desenvolvidos lá dentro.

Lembrei-me daquelas comunidades japonesas no Brasil, onde se fala somente japonês e a cultura é passada de geração a geração, como na Fazenda Yuba, em Mirandópolis (SP). A diferença está na organização social.

No Homi Danchi dá para perceber que não há uma união, um interesse comum. Há sim os interesses individuais, o que não traz crescimento para a comunidade como um todo. Também me perguntei se não é perigoso para os próprios brasileiros viverem nessa bolha. Afinal, ali eles não precisam falar uma palavra sequer em japonês. Quais as consequências (positivas e negativas) disso tudo? Como mudar o destino desses brasileiros?

Uma das respostas está nas crianças que estudam em escola japonesa e fazem aulas de português numa escola comunitária ali mesmo no conjunto. Por que somente elas? Porque os que estudam apenas numa instituição japonesa vão acabar "virando" japoneses enquanto os que optaram pela escola brasileira deverão um dia voltar ao Brasil. Já os "bilíngues" serão a ponte entre esses brasileiros e a sociedade local. Estou errado?

Conversei bastante com a diretora da Escola Comunitária Paulo Freire, a educadora Josélia Fuidio, e também o professor de ciências e biologia Cláudio da Silva. O espaço, pequeno a primeira vista, guarda uma enorme vontade de ajudar essas crianças. Falta talvez mais apoio da própria comunidade brasileira.

Estou planejando um novo retorno ao conjunto. Fiquei interessado em ouvir outras histórias, desta vez das crianças. Quero saber o que elas pensam e o que querem. Aí sim, vou ter um panorama geral. Alguém aí topa fazer um documentário disso tudo?

Postado por Ewerthon Tobace | 12 comentários

Comentários

  1. tatsuya @ 18 Mar, 2008 : 12:02
    Ewerthon muito interessante sua reportagem! Já morei no Japão, e quando ouvia sobre o Homi Danchi, só ouvia coisas ruins. Mas agora você pode mostrar como as coisas mudaram! Parabéns!

  2. ricardo y @ 18 Mar, 2008 : 20:44
    documentário? eu toparia (se vc topasse), mas o tempo........ ai.

  3. 留学生 @ 19 Mar, 2008 : 01:48
    Como alguem que nao eh jornalista poderia ajudar em um documentario desses? Tem como?

  4. kurati @ 19 Mar, 2008 : 16:41
    que ótimo!quando cheguei no japão ,ouvi estórias horripilantes desse danchi,graças aos céus ,as coisas melhoraram!!!Dá pra fazer uma senhora mat

  5. Karina Almeida @ 20 Mar, 2008 : 01:39
    eu conheço outros pedacinhos brasileiros daqui, mas sei que o homi danchi é o número 1. sou louca pra ir lá, pena que é looooooonge né. ah, quanto ao documentário, tô dentro (^_^)v

  6. Kenji Arimura @ 20 Mar, 2008 : 06:17
    Olá Ewerthon, Achei muito interessante a matéria e me identifiquei muito também com ela porque já estou trabalhando num projeto pessoal que, envolve os dois lados do planeta e que deu origem à essa nossa mistura exótica. Por isso, gostaria de fazer parte desse documentário se você já não arranjou alguém para fazer as fotos. Veja alguns exemplos do meu trabalho nesse link: http://flickr.com/photos/kenjiarimura/ Se você gostar é so entra em contato. Valeu! kenjiari@hotmail.com

  7. Danielle Mendes @ 21 Mar, 2008 : 17:02
    Olá! Adorei o artigo. Sou jornalista e estou fazendo uma pesquisa sobre os paranaenses que moram no Japão. Nesse condomínio é possível que encontramos bastante né?!! Por favor, me envie um e-mail para trocarmos idéias. Muito obrigada. Danielle Mendes danicamendese@hotmail.com

  8. Fabrícia Sousa @ 21 Mar, 2008 : 20:59
    Olá Ewerthon! Leio seus posts a algum tempo, essa é a primeira vez que deixo meu comentário. Bom achei muito interessante esse pedaço de Brasil no Japão, concordo com você quando diz que estes brasileiros vivem numa bolha, realmente até que ponto isso é benéfico? Boa matéria para um documentário sim. Não sou jornalista, mais me interesso pelo Japão, embora more no Brasil e nunca tenha ido lá, sou fascinada pelo país sua comida e cultura. Sucesso para você!

  9. Paulo (Plurality) @ 21 Mar, 2008 : 22:10
    Acompanho bem de perto o problema dos que vivem dentro da bolha. Chega a ser preocupante. Se você se interessar, tenho umas histórias interessantes que posso te mandar por email, já que a gente não consegue se encontrar mesmo. :P

  10. Ewerthon Tobace @ 22 Mar, 2008 : 07:48
    Olá Danielle, obrigado pela visita. Espero que veja esse recadinho: tentei mandar email para vc, mas acho que o endereço está errado... Envie um email para mim, por favor (tobace@yahoo.com).

  11. Claudia Yoscimoto @ 22 Mar, 2008 : 14:57
    Olá Ewerthon! Muito legal a matéria sobre o Homi Danchi. Adorei! Na minha opinião, morar em danchi é a melhor coisa para estrangeiros, porque além do aluguel ser mais barato, realmente é uma mini-cidade lá dentro, pois tem de tudo! Para quem tem crianças realmente é muito bom, pois há escolas, creches e muitos parquinhos, ou seja, mais espaço para elas brincarem, além de comércio variado para os pais. Só é ruim essa falta de interação com os japoneses e a manutenção desse pensamento individualista, de que a vida em conjunto pouco importa. Creio que os brasileiros só irão querer se integrar mais à sociedade local, quando acharem que, efetivamente, fazem parte dela.

  12. franco suzuki @ 10 Fev, 2010 : 13:11
    Queria lhe perguntar se vai ser divulgado do suicidio de um brasileiro de 25 anos dentro da IMIGRAÇÃO de Ibaraki-ken?? Como um absurdo entre culturas pode chegar a esse nível??

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Perfil

Ewerthon Tobace, jornalista, 31 anos. Um dia, meu avô resolveu enfrentar o desconhecido. Chegou ao Brasil de mala e cuia, sem falar a língua. Agora, faço o caminho inverso e, a cada dia, descubro os fascínios da ‘terra do sol nascente’. Moro no Japão desde 2001 e trabalho na mídia étnica com foco na comunidade brasileira.
 



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