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  Conte sua históriaLuana Cristina Ireijo › Minha história

Luana Cristina Ireijo

Campo Grande / MS - Brasil
41 anos, Estudante e empresária

A redescoberta dos valores japoneses


Meu objetivo anteriormente era voltado para área rural, mas, com o passar do tempo, acabei me envolvendo pelos projetos da minha professora e orientadora Solange Bertozi. Apesar de ser descendente de alemães, ela é muito envolvida e admiradora da cultura japonesa, e fez com que me interessasse pelo tema. Fiquei surpresa comigo mesma por não ter rejeição como antes, e fui assim de “cabeça” nessa empreitada.

Debatíamos em todos os nossos encontros sobre como seria apresentado este projeto, ela com a parte teórica e eu, com a parte prática. Éramos sintonizadas pela mesma paixão, essa que eu estava desvendando aos poucos para mim mesma.

Tem uma parte do projeto que devemos coletar informações históricas, ler tudo o que fala sobre a chegada dos imigrantes ao Brasil e ao sul de MT, atualmente MS.

Essa parte fez com que eu resgatasse no tempo as dificuldades da época, como foram as difíceis adaptações no país, a falta de entendimento da língua e de comunicação. A chegada ao poder do nacionalista republicano Getúlio Vargas proibiu aos imigrantes qualquer tipo de veiculação estrangeira, proibindo o ensino da língua.

Na época as humilhações por preconceito eram muitas, vinda desde crianças e adolescentes que jogavam pedras nos imigrantes japoneses, e em suas casas. Minha mãe conta que chamavam ela de “bode” e que ela tinha medo das ameaças.

Estudando o comportamento e atitudes de quem ficou no Brasil pela falta de opção e pela necessidade daquela ocasião, observei que muitos desses orientais faziam de duas formas para manter protegidos seus filhos, a terceira geração. Uma era de segregação, não ensinando a língua japonesa e fazendo seus filhos se tornarem realmente brasileiros. E a outra de coesão, em não deixar seus filhos terem influências de “gaijins” em sua educação e comportamento, tendo um isolamento de agrupamento apenas da colônia.

Pergunto aos meus pais, quais dessas atitudes eles adotaram comigo? Porque ao mesmo tempo em que eles não me incentivavam a fazer aulas de língua japonesa e ter apenas a panela de “gohan” como forma de cultura do nihon, mas comendo arroz temperado e feijão. E de certa forma, eles não queriam minha aproximação com “brasileiros”, preferindo sempre amizades com filhos de famílias japonesas.

Como entender essa geração que passou por humilhações e preconceitos no país, e por ser japonês no Brasil e “gaijin” no Japão? É confuso para eles saber como proteger e defender das diferenças seus filhos e manter viva as tradições dos seus pais.

Eu acredito que os estudos e aperfeiçoamento do que chamamos de segregação e coesão da cultura japonesa possam ajudar na construção de futuros descendentes mais focalizados em suas raízes milenares, na miscigenação de raças, e na auto-afirmação no país tropical abençoado por DEUS, chamado Brasil.

E foi com a aproximação de um ex-namorado “gaijin” que meus pais aprenderam a admirar, fizeram com que o comportamento preconceituoso fosse eliminado na minha família. Minha mãe diz: “quero ter um netinho mestiço!”

E para finalizar, posso dizer que me sinto orgulhosa em ser descendente direta da família Ireijo, herdar o sangue e traços orientais, e ter a alegria e sensualidade de uma brasileira.

O percurso da minha vida até aqui me ensinou a gostar de ser assim... Porque sou assim! E meu objetivo agora é estudar no Japão, aprender fluentemente a língua e continuar a manter a rica identidade japonesa no meu país.


Enviada em: 31/10/2007 | Última modificação: 31/10/2007
 
« Paixão na adolescência

 

Comentários

  1. Marcos Lomba @ 13 Nov, 2007 : 12:22
    Que felicidade ter tido essa meio japonesinha e muito brasileirinha passando pela minha vida! E por estes depoimentos da Luana concluo o quanto ela cresceu nestes últimos quatro anos. As circunstâncias da minha vida sempre me fizeram estar muito próximo dos orientais e seus descendentes aqui no Brasil. Também sou descendente de imigrantes(italianos, espanhóis e portugueses) e meu pai trabalhou por mais de 11 anos com família japonesa e com isso cresci no meio deles, basta dizer que minha primeira grande paixão também foi uma sansei... e é isso tive a oportunidade de estar ao lado por algum tempo dessa pessoa cheia de brilho e entusiasta pela vida e pelo que faz, batalhadora, guerreira como seus ancestrais e que tornam este país mais produtivo, colorido e diversificado culturalmente. Parabéns por ter chegado até aqui Luana!!! Te quero muito bem, hoje e sempre!!! Marcos Lomba

  2. luan @ 21 Nov, 2007 : 15:29
    eu perguntei foi de emigração

  3. Luci Suzuki @ 5 Jun, 2008 : 08:25
    Cara Luana, apreciei muito a sua abordagem do tema, ao observar com equilíbrio e honestidade o processo histórico do qual poucos conhecem: a questão da identidade dos primeiros nisseis, as repressões durante o período Vargas, até a lenta e recíproca assimilação inter-racial alcançada pela nossa sociedade. Frequentemente somos lembrados como uma nação sem memórias, - em grande parte pelo baixo nível escolar que o Estado nos reserva, e por outra, porque temos múltiplas referências culturais, com uma enorme vocação de olhar o umbigo alheio e não o próprio. Mas causa grande conforto saber que há muitos acadêmicos – como é o seu caso - que estejam registrando estes fragmentos históricos sobre um papel. Seria auspicioso que brasileiros de diferentes origens – sobretudo as distintas culturas africanas, mas como tbém a italiana, portuguesa, alemã, libanesa e tantas outras - registrassem seus fatos históricos. Por que afinal, fazemos parte de uma sociedade única que ocupa fisicamente um território, no qual os únícos brasileiros, continuam sendo os índios. Os únicos que ainda não provaram a tão desejada coesão. Um grande abraço e bons estudos, Luci.

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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil

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