Não tô com preguiça de atualizar o blog não. Mas, hoje, vou deixar aqui um texto que já foi publicado. Estreei uma coluna na Alternativa Higashi em outubro e dois meses depois passei a ser repórter também. Agora escrevo não só para a revista regional, mas também para a nacional.
Dá orgulho de trabalhar lá. Quer dizer, aqui. A Revista Alternativa é muito querida pelos brasileiros no Japão e tenho sentido isso na pele. Vira e mexe alguém vem falar comigo, diz que lê a minha coluna, que gosta da revista etc e tal. Tô me sentindo a celebridade (^o^)/
Pena que quem mora longe não pode acompanhar o nosso trabalho, já que o site ainda não tem as reportagens e colunas da revista. A Alternativa circula "apenas" no Japão (de ponta a ponta; são 50.000 exemplares) e a Alternativa Higashi é regional. O leitor-blogueiro-amigo Paulo, que mora em Nagoya, já reclamou que não pode vê-la. Lá, ele recebe a Alternativa Nishi, a outra regional.
Enfim, deu vontade de mostrar a coluna deste mês para vocês. Depois conto mais da revista. Aí vai, espero que vocês tenha fôlego para ler (^_^)v
Meu Japão não é perfeito
Tem gente que reclama porque eu só falo bem do Japão. Pois hoje vou falar mal, muito mal! É deprimente passar a virada de ano aqui. O Natal, então, é mais chato ainda. Especialmente, para quem está longe da família, como eu. Os solteiros também se sentem peixes fora d’água nesta época. Afinal, o Natal para os japoneses é o segundo Dia dos Namorados. É verdade! Cheguei a perguntar a amigos nativos e eles confirmaram: no dia 25 de dezembro (ou seria 24?) os casais costumam jantar num restaurante romântico e depois passar a noite num hotel. Não é motel, não. É hotel mesmo e o número de estrelas varia de acordo com o bolso do rapaz. Ou da moça, caso ela queira pagar.
E no Revéillon, esqueça a tradição de se vestir de branco. Com exceção das lojas brasileiras, as vitrines daqui não entram no clima de Ano Novo. Em dezembro de 2006, saí à caça de uma roupa especial para a minha primeira virada de ano em Tokyo e depois de muita caminhada, advinhe o que levei para casa? Um vestido p-r-e-t-o! Logo eu, supersticiosa como sou. Fiz minhas orações e pedi aos deuses: por favor, esqueçam o vestido e considerem apenas a cor das peças íntimas. Branco e rosa. Ou seja, eu quero paz e amor. Eles me ouviram, 2007 foi muito legal. Ufa!
Neste ano não quis arriscar. Na hora da virada, lá estava eu com a calça jeans nova (quem diria, passar o Revéillon de calça jeans!) e uma blusa rosa. Nova, claro. E, mais uma vez, na minha roupa também tinha branco. Paz não pode faltar! Tive sorte de encontrar uma turma super animada, aqui em Gunma, e a chegada de 2008 foi bem alto astral. Nada de balada, nem bebedeira (até parece que bebo assim). Comemos muito e encerramos a noite num santuário xintoísta, lá pelas 3 horas da manhã. Adorei. No Natal, também tive sorte e fui convidada para um ceia familiar, que teve até champanhe com raspa de ouro. Que maravilha!
Mas voltando a falar mal do Japão, outro dia deixei escapar: “o costume japonês que mais me irrita é esse de tirar os sapatos!” Meu amigo deu gargalhadas e e eu também ri da besteira que falei. Não menti. Eu acho muito chato ter que tirar os sapatos toda hora. E quando os amigos me convidam para ir a um restaurante ou coisa do tipo, chego a perguntar: “tem que tirar os sapatos?”. Eu concordo que é mais higiênico, que a casa fica mais limpa, blá-blá-blá. Por outro lado, para quê comprar uma sandália linda e caríssima para a tal festa, se ela vai ficar lá na porta? E me diga qual vestido, por mais Dolce&Gabbana que ele seja, fica bonito com aqueles chinelos de visita, chamados por aqui de surippa?
Tem mais! Por que eu não posso usar sapatos nem na minha casa? Foi a primeira coisa que vi, logo que entrei. Deixaram um papel vermelho, bem grande, com um aviso nas mais variadas línguas: “Shoes off”. “Prohibido entrar con los zapatos puestos”. “Proibido entrar com os sapatos postos”. E umas letrinhas japonesas, coreanas e chinesas, além do sinal universal de um par de pegadas com aquele X enorme de proibição. Achei um abuso, apesar de ter acatado a ordem. Ficar sem sapatos em casa não me incomoda tanto como numa festa. Pelo contrário, até gosto. Mas se volto para buscar as chaves ou o celular, dane-se a regra. Entro na ponta dos pés c-a-l-ç-a-d-o-s.
O que meu amigo não sabe é que descobri uma coisa mais estressante do que tirar os sapatos: a separação do lixo. Que exagero! No bairro que moro agora, não basta separar queimável de não-queimável, latas, garrafas pet, jornal, papelão e vidro. Isso eu já estava acostumada a fazer em Tokyo. Agora, a Prefeitura quer que eu separe muito mais! E ainda é preciso utilizar os sacos de lixo oficiais. Sacola de supermercado, nem pensar! Entendo que é para o bem do planeta e admiro essa atitude dos japoneses, mas haja paciência para separar tantos tipos de papel, só para citar um exemplo.
Repare neste ítem do manual de classificação e coleta de lixo doméstico da minha cidade (sim, tem manual!): “os papéis como rolinho de papel higiênico, lencinho umedecido e outros não se enquadram no tipo de papel reciclável, tampouco no mix paper. Devem ser separados e colocados no lixo que queima”. Assim, cada vez que preciso da lata de lixo, tenho que consultar o manual. Onde é mesmo que jogo o papel deste chocolate Prestígio que acabei de comer?
Como diz um amigo japonês, é o preço que se paga para viver em um país tão populoso e, mesmo assim, limpo e organizado. Ah, quer saber, isso não faz com que eu deixe de gostar do Japão. Disciplina não faz mal a ninguém.