Legenda: Monte Fuji: símbolo do Japão. Subir até o topo era um dos meus objetivos quando cheguei ao país. Já alcancei essa meta. Agora, quero fazer isso de novo ano que vem
O assunto: Meta. A maioria dos que vieram ao Japão já perdeu o foco
Os primeiros brasileiros chegaram no Japão no final dos anos 80. Traziam na mala, além de roupas e mantimentos, vontade de ser um vencedor. Não se importavam com o tipo de trabalho e nem com as longas jornadas diárias. Do suor, brotava o dinheiro. Era época de vacas gordas e, com pouca concorrência e muita demanda, os primeiros dekasseguis conseguiam encher a mala de dinheiro. O objetivo da maioria era ficar dois ou três anos e voltar ao Brasil para abrir um negócio.
Passados quase 20 anos (oficialmente, o movimento teve início em junho de 1990, com a mudança na legislação de imigração japonesa, que concedeu aos descendentes de japoneses visto temporário de longa estadia, o que permite a atividade econômica no país), o cenário não mudou muito. Só o salário ficou menor, por culpa da alta concorrência e da crise pela qual passou a indústria japonesa no final dos anos 90 e começo dos anos 2000.
As últimas pesquisas sobre o comportamento da comunidade ainda mostram que o desejo da maioria é voltar logo ao Brasil, e se possível com um bom pé de meia. O motivo para vir ao Japão também não mudou muito. “A motivação está ligada principalmente a questões econômicas, o que explica também a maior proporção de homens que viajam sozinhos e os reiterados retornos no caso de insucesso no Brasil, principalmente para o pessoal de mais baixa escolaridade”, aponta o estudo feito pelos pesquisadores Kaizô Iwakami Beltrão e Sonoe Sugahara.
Mas o que tenho percebido é que, apesar de ter na cabeça que o retorno ao Brasil é certo, a maioria dos brasileiros já perdeu de vista o objetivo inicial. Não faz planos e vai empurrando com a barriga a permanência no arquipélago. Já conversei com muitos conterrâneos que sequer fazem poupança e também não estabelecem uma moradia fixa.
Acho triste essa situação, já que essas pessoas acabam vivendo como numa república de estudantes. Tudo é improvisado. Os móveis são velhos, doados por amigos, pego em lixões ou comprado em loja de usados. Creio que é uma forma dos trabalhadores reafirmarem a vontade de ir embora. Não compram nada novo para não ter de se desfazer depois. Percebo que aqueles que estão mais certos da longa permanência por aqui fazem o possível para ter mais conforto em casa.
Isso implica em uma série de consequências, como por exemplo a não inserção na sociedade local -- principalmente porque a maioria acha desnecessário aprender o idioma local --, e portanto a permanência na base da pirâmide social. Sem contar que a qualidade de vida é drasticamente afetada.
E assim, passam-se dias, meses, anos. Nada muda. É triste, mas muitos brasileiros que vieram com um idéia na cabeça, largaram-na em algum canto da casa. Não têm mais metas.
E você? Sabe o que vai fazer e onde estará no próximo ano? Não está na hora de traçar planos na sua vida?
O que pretedem os brasileiros que estão no Japão:
Intenções Homens (%) Mulheres(%)
Regressar e abrir negócio próprio 63 43,8
Regressar e contribuir com negócios da família 8,3 9,6
Regressar e viver de rendas/trabalho 10,3 15,1
Não voltar ao Japão, mesmo que não dê certo no Brasil 3,8 5,4
Voltar ao Japão se não der certo no Brasil 13,4 4,2
Voltar ao Brasil, mas tem receio (criminalidade, desemprego) 8,7 7,6
Fonte: Associação Brasileira de Dekasseguis (ABD)