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5 Nov, 2007

Cenas do cotidiano dekassegui

Ewerthon Tobace

O personagem: Ricardo Yamamoto, 32 anos, fotógrafo, quer se engajar um dia numa atividade que possa causar um impacto no mundo, através é claro da fotografia

 

Foi ao som de O Calhambeque, de Roberto Carlos, num wine bar e restaurante italiano sofisticado, em plena Omotesando (Tóquio), que tive um papo animadíssimo com Ricardo Yamamoto, um fotógrafo que tem um olhar apurado para registrar as cenas do cotidiano brasileiro no Japão.

A escolha do restaurante foi proposital. Alguns dos trabalhos do jovem estão expostos neste local, frequentado por empresários e gente descolada, que curte arte e boa comida – o Sin é comandado pelos simpáticos italianos Vittorio e Pietro, radicados no Japão há 15 anos.

 Legenda: Sem título. Hamamatsu 2002. Crédito: Ricardo Yamamoto

 

Ricardo está no arquipélago há quase 17 anos. “Isso é mais da metade da minha vida”, calcula. A maior parte do tempo, ele ralou em fábricas e, há pouco mais de um ano trocou Hamamatsu (na província de Shizuoka) pela capital japonesa. Largou as linhas de produção e a aglomeração de brasileiros por um trabalho como produtor numa tevê brasileira. Aliás, foi lá em Hama – como é carinhosamente chamada a cidade pelos brasileiros – que tive o primeiro contato com o trabalho do fotógrafo.

Seu jeito simples e calmo de hoje contrasta com seu passado skatista. “É porque mudei o jeito de me vestir”, brinca Ricardo, que por longos 10 anos investiu boa parte do que ganhava na fábrica no esporte. A fase do skate chegou ao fim e ai ele descobriu os prazeres da fotografia. “Comprei uma Nikkon F60 e queria saber usar os recursos dela. Comecei a estudar e fui aprendendo”, conta.

 

 

Ricardo é um auto-didata. Fez apenas um curso básico, teve dicas preciosas de um amigo fotógrafo profissional e não parou nunca de pesquisar e estudar. Apaixonou-se pela foto PB (preto e branca) e tem em Sebastião Salgado uma espécie de espelho. “Foi com ele que aprendi que com uma imagem podemos expressar uma opinião ou idéia”, fala.

Foi daí que surgiu então a idéia do Projeto Partida, no qual o brasileiro registra momentos da vida do dekassegui. “Partida pode significar ‘ir embora’ como ‘começar algo’. E é essa a situação dos brasileiros que vivem no Japão. Estamos sempre partindo”, analisa. Até agora fazem parte do projeto cerca de 40 imagens. Todas, posso dizer, muito cativantes e mostram a relação íntima que ele tem com a comunidade, fruto dos muitos anos de convivío diário com os conterrâneos.

O papo no restaurante italiano durou umas duas horas. Falamos não só da vida dele, como também de projetos e a divertida rotina para quem mora em Tóquio. Encerramos a conversa com um cafezinho básico – eu café com leite e ele um capuccino, na verdade –, e ficamos de marcar um outro encontro. Desta vez, para ele me dar umas dicas de foto.

Ah! E para entrar no clima das fotos do Ricardo, eu postei aqui fotos do “entrevistado” em preto e branco. Espero que gostem. E quem quiser saber mais sobre o trabalho do Ricardo entre aqui neste site: (http://ricardoyamamoto.com).

 

Legenda: Churrasquinho e karaokê em loja brasileira. Hamamatsu, 2002.
Crédito: Ricardo Yamamoto
(http://ricardoyamamoto.com)

 

Postado por Ewerthon Tobace | 15 comentários

Comentários

  1. Karina Almeida @ 5 Nov, 2007 : 14:04
    muito legal a historia do ricardo. tb adorei o projeto partida. o nome eh otimo e a ideia tb. deu vontade de ver a exposicao. parabens e bom trabalho, ricardo! ah, tb gostei muito das fotos do post :)

  2. Ivi Paula @ 5 Nov, 2007 : 17:50
    Olá Ewerthon, tudo bem? Parabéns pelo blog, muito bacana a sua iniciativa! Gostei da idéia do Ricardo e principalmente das fotos, lindo trabalho!

  3. Raquel @ 5 Nov, 2007 : 22:06
    Adorei as fotos -- e o texto também! Parabéns ao Ricardo.

  4. Paulo @ 6 Nov, 2007 : 10:45
    Ótimo texto! Conhecia muito pouco sobre o trabalho do Ricardo, e seu post foi uma ótima iniciação. Parabéns aos dois!

  5. RMax @ 7 Nov, 2007 : 07:29
    Nao sei se tem no site dele, mas ha um video no Youtube bacana que foi produzido para uma mostra de filmes brasileiros na Universidade de Shizuoka: http://br.youtube.com/watch?v=OAhwW7viDSk

  6. Evaldo Novelini @ 7 Nov, 2007 : 11:06
    Ewerthon Tobace!!! Que saudade, menino. Quando soube desse teu blog, fiquei extremamente feliz com a possibilidade de retomar contato contigo. Será bom poder compartilhar de sua inteligência aqui neste espaço. Também tenho um blog, onde trato de jornalismo, política e cultura. Está em www.evaldonovelini.com.br. Apareça. Beijo,

  7. kikks/moyashis @ 7 Nov, 2007 : 20:34
    ê, olha quem tá aí!!! parabéns!!! você e a karina, de certa forma, deram uma luz aos moyashis... arigato!

  8. ricardo y @ 7 Nov, 2007 : 22:36
    Como disse o querido RMax, há um link para o vídeo que fizemos para apresentar na univ. de Shizuoka no site (www.ricardoyamamoto.com). E em breve, colocaremos no ar um outro breve trabalho feito em dueto com nosso amigo Alberto Sakai (univ.de Chiba) que foi apresentado este ano na Temple Univ. sobre os paradigmas das novas formas de trabalho para os filhos dos dekasseguis/imigrantes. Um comentário sobre a apresentação foi postado por uma prof da Duke Univ. nesse link http://www.hastac.org/node/850 Abraço à todos, é sempre bom estar entre amigos.

  9. Fatima Antunes @ 10 Nov, 2007 : 06:45
    Ricardo,realmente tem um belo trabalho, é um dos imigrantes que está correndo atrás de seus sonhos. Creio que em breve o reconhecimento chegará. Otimo post. beijos.

  10. Suélen Lopes @ 10 Nov, 2007 : 17:23
    Ótimo texto, belas fotos e linda história! Eu gosto de foto, mas falta dom na verdade! :) O post abriu meus olhos com relação a me dedicar mais a fotografia estudando, aproveitando dicas... quem sabe assim conseguirei ser uma fotógrafa como o Ricardo?! :) Parabéns aos dois pela iniciativa! Abraços

  11. ricardo y @ 11 Nov, 2007 : 01:04
    Suélen - A imagem é provavelmente a linguagem mais universal que existe. Apesar de ser esteticamente formal, é muito poderosa. O que você escreve aqui pode ser lido na China ou em qualquer outro lugar sem tradução. Ter o "dom da palavra" nessa linguagem é com certeza um grande privilégio. E se esse esforço para chegar lá te deu incentivo, fico particularmente super contente.

  12. Tina Andrade @ 12 Nov, 2007 : 17:04
    Fico muito feliz de ter batizado este projeto lindo mesmo! Eu tive uma passagem meteórica na vida deste talentosíssimo discípulo do Salgado e o resultado esta aí, melhor que nunca. Aliás, cadê aquela foto da gente na baía de Tokyo? Me mata de curiosidade. Ricardo, como fica a exposição aqui no Brasil? Vamos dar continuidade? Beijos da "dinda" Tina.

  13. ricardo y @ 21 Nov, 2007 : 13:57
    Grande Tina! Tudo bem com vocês?! Como é que posso esquecer de onde veio a idéia (e explicação) do nome? Ainda aguardo aquele e-mail seu, escreve lá! Abs!

  14. Diliane @ 3 Dez, 2007 : 02:11
    Muito interessante mostrar que mesmo trabalhando nas fábricas, ainda há os que encaram a vida e correm atrás de seus sonhos. Seria muito interessante reunir as fotos do Ricardo em um livro né! Talvez consiga patrocínios nas fábricas!

  15. Alexandre Maruoka @ 26 Abr, 2008 : 20:43
    Puxa! O Ricardo é uma grande referência para nós fotógrafos aqui no Japão, sabe compor fotografias como ninguém! São muitos os fotógrafos aqui, poucos são competentes, mas os que são, são do nível do Ricardo. Parabéns Ricardo! Sabe que admiro muito seu trabalho.

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Perfil

Ewerthon Tobace, jornalista, 31 anos. Um dia, meu avô resolveu enfrentar o desconhecido. Chegou ao Brasil de mala e cuia, sem falar a língua. Agora, faço o caminho inverso e, a cada dia, descubro os fascínios da ‘terra do sol nascente’. Moro no Japão desde 2001 e trabalho na mídia étnica com foco na comunidade brasileira.
 



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