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31 Dez, 2007

Descobrindo meu lado... austríaco?

Escrevo neste blog às 2h14 da manhã de segunda-feira (31). Como ainda não fui dormir, digamos que ainda seja dia 30 para mim. Bom, este dia tem sido bastante diferente (só para exemplificar, até deixar o telefone de casa mudo eu consegui. Não me pergunte como). Estou fazendo a minha tradicional faxina da virada de ano desde sexta-feira mas hoje realmente "baixou" em mim a faxineira e estou aqui, numa velocidade nem tão rápida, mas constante, limpando minhas coisas.

Retirei sapatos que estavam me machucando (até os clogs holandeses estão indo embora), livros (muito mais livros do que o previsto) e roupas apertadas e velhas. Recarreguei as baterias da máquina fotográfica. Arrumei os suéteres, limpei meu quadro de fotos, senti saudades de Paris. Neste processo todo, minha companhia tem sido o programa de rádio de uma escritora e palestrante americana, que eu baixei para o meu computador. São mais ou menos 45 programas, em que ela comenta algum assunto e responde perguntas de pessoas que ligam para lá.

Bom, ela e uma ouvinte estavam conversando sobre freiras, Espanha, agorinha, enquanto eu colocava os suéteres de volta no armário, quando a ouvinte a corta e diz que adora filmes tipo A Noviça Rebelde. Fiquei feliz, óbvio. Eu adoro (a-do-ro) A Noviça Rebelde! E, com isso, pá, caiu a ficha. Eu nunca havia prestado atenção ao meu lado austríaco antes. Aliás, eu nem achava que ele tinha uma grande importância na minha vida.

Como eu achava isso? Como? Se A Noviça é um de meus filmes favoritos!

Pausa para explicação:
Para quem não sabe, a história se passa na Áustria (Áustria, Raquel!!!!) e foi baseado no livro de memórias (sim, eu também li o livro), de Maria von Trapp (a tal noviça) que se casa com o capitão da Marinha austríaca, viúvo e com muitos filhos.

Voltei:
Como eu não havia prestado atenção no meu lado austríaco antes, se eu amo edelvais, que, por acaso é a flor nacional da Áustria? Como? Se eu a tenho, seca, em um quadrinho na parede da sala, estampada em um lencinho de amarrar no pescoço, em um medalhão! (Alguém já viu tantos edelvais por aí?)

Hm... (pausa para reflexão)

Às vezes, nós, mestiços, nos esquecemos desse nosso outro lado (o lado não-japa). Eu acho que, de uma certa forma, acontece porque as pessoas sempre prestam atenção nos nossos olhos puxados e no cabelo preto e liso, primeiro. E a gente também. De uma certa forma, a gente acaba esquecendo um pouco de nossas outras raízes, de nossas outras culturas. Acabamos valorizando um lado (não importa qual) em detrimento do outro. Não deveríamos. Afinal, a nossa riqueza está, justamente, nessa mistura toda.

Bom fim de noite,

 

 Raquel.

 

 

 

Postado por Raquel Hoshino | 3 comentários

Comentários

  1. Julio Almeida @ 2 Jan, 2008 : 15:04
    Olha, interessante o nome do seu blog. Entendo que cada pessoa tem direito a sua verdade pessoal. Ate mesmo posso imaginar o quanto voce se sente bem em pensar que em voce existam partes italianas, japonesas, austriacas e outras mais com origem nos confins do mundo ou do universo cosmico. Contudo, devo confessar que, ao mesmo tempo que acho interessante, tambem acho vazio o nome desse blog. Do ponto de vista do DNA humano, todo o mundo eh mestico. O que o projeto genoma e outros correlatos tem trazido a tona eh que os povos da terra nao possuem um conjunto padrao de genes que os identifiquem como um grupo. Ou seja, nao ha um padrao genetico que defina indianos, judeus, africanos, japoneses, germanicos, arianos etc. O que se tem descoberto eh que existem, por exemplo, genes comuns em arianos e em judeus, em esquimos e em japoneses, em africanos e em caucosoides e assim por diante. Ate mesmo nos povos em que se acreditavam ser homogeneos, como os japoneses, ha grande variancia genetica, com os japoneses compartilhando cachos (ou clusters) de genes com europeus do norte, ibericos etc. Ha muito tempo atras, um atropologo alemao que era profesor em Toquio, ja havia observado uma mancha azulada que era comum em bebes mongois, coreanos e japoneses e comecou a chamar esta mancha de mancha mongol (mongolisch flecken). Ate ai, nenhuma grande surpresa, todos compartilhavam a caracteristica de serem asiaticos. Porem percebeu-se que os povos do oriente medio tambem apresentavam a tal mancha. Interessante, nao? Talvez este tenha sido o primeiro indicio, numa epoca em que a ciencia nao tinha as ferramentas que tem hoje, de que havia pessoas em lugares distantes da Terra que compartissem os mesmos genes. Contudo, se no plano imaginario voce quiser continuar a achar que tem uma mistura toda especial naquelas minusculas partes nos nucleos de suas celulas, divirta-se. Abracos e beijos.

  2. Raquel Hoshino @ 3 Jan, 2008 : 05:09
    Caro Julio, em primeiro lugar, muito obrigada pela aula. Ela só veio a acrescentar ciência e conhecimento em algo que acredito muito: todos nós somos, de alguma forma, "mestiços" (seja no DNA, como vc afirmou), seja culturalmente (quando nos sentimos "em casa" ao aprender uma tradição de um outro povo), seja quando viajamos (e parece que, finalmente, nos "encontramos" em um outro país), seja porque misturamos sushi com arroz, feijão e farinha, seja porque abraçamos novos jeitos de viver a vida quando nos casamos e constituímos uma nova família e, com isso, nos tornamos algo maior que apenas uma junção de sobrenomes. Toda pessoa é especial porque é uma mistura única. De células, alma e coração. Te desejo um grande ano, Raquel.

  3. Julio Almeida @ 10 Jan, 2008 : 08:58
    Oi. Obrigado por responder. Bom, se voce acredita muito que somos todos mesticos, nao seria redundancia se dizer a todos que eh mestica? Ja que todos temos DNA's mesticos, autodenominar-se mestico eh tao redundante quanto autodenominar-se humano. Tao redundante quanto escrever DNA: Humano. Beijos.

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Perfil

Raquel Hoshino é mezzo japa, mezzo italiana. Jornalista, ariana e chefe escoteira, está atrás de seu "gene zen". Aquele pedacinho oriental perdido, suficiente para transformá-la numa pessoa iluminada e calma o suficiente para comer uma tigelinha de arroz, grão por grão, enquanto admira a paisagem de suas jornadas.
 


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