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  Conte sua históriaMarcelo Norio Inada › Minha história

Marcelo Norio Inada

São Paulo
47 anos, médico

Infância em Araçatuba


Minha mãe diz que demorei para começar a falar. Tentava me alfabetizar em japonês; porém quando tentou o português, comecei a tagarelar! A vizinha até perguntou se havia outra criança em casa!

Iniciei meus estudos na escola brasileira e concomitante na escola japonesa. Achava normal, até que um dia um colega veio tirar um barato: “Japonês, calabrês, come sapo todo mês!”. Quem é o descendente que nunca ouviu isso? Até então, não sabia o que significava ser japonês sendo brasileiro... O que ele não sabia, é que eu tenho sangue de samurai e, na época, assistia muito o incrível Hulk. Minha mãe, com intenção de não ser superprotetora e querendo me ensinar a me defender sozinho, dizia que não era para começar nenhuma briga, mas que também não era para vir chorando para casa porque apanhou, ou apanharia duas vezes; o enxerido aprendeu a nunca mais mexer com um “japa”! Acertei-lhe um soco bem no meio do nariz! E fui parar na diretoria... Aprendi então que eu era diferente aqui no Brasil. Eu era um japonês!

Quando pequeno não gostei de ser chamado de japonês! Mas hoje tenho muito orgulho de ser descendente deste povo, de quem tenho certeza de que herdei muitas características, não só físicas, mas alguns costumes também! Sempre que tenho algum problema ou algum obstáculo na vida, lembro o que minha mãe sempre disse: vocês têm exemplos de garra, tenacidade, perseverança, espírito de guerreiro e vencedores na família. Espelhem-se em seus avós e bisavós, que vieram novos, com idades entre 9 a 11 anos, sem os pais, somente com os tios, apenas com algumas roupas e outros pertences. Vieram para um país desconhecido, sem ao menos saberem falar a língua, com costumes completamente diferentes, sem amigos, do outro lado do planeta! Vieram em busca de novas oportunidades, para enriquecerem, vencerem na vida e voltarem para o Japão... Venceram! Mas não voltaram... ou eu não estaria aqui escrevendo...

Sou filho de pai e mãe brasileiros, mas filhos de japoneses (nisseis). Criado em Araçatuba, interior de São Paulo, a 540 km da capital. Araçatuba é uma região onde a concentração de famílias japonesas é grande, devido à lavoura de café, no início do século passado. Mantém muito a tradição japonesa, com igrejas budistas, associação cultural nipo-brasileira onde são realizadas cerimônias de chá, ikebana, danças típicas e aulas de língua japonesa, entre outras. Freqüentei escola japonesa, joguei beisebol, participei de concursos de karaokê, udons, undokais, e bon-odoris. Costumes que existem até hoje, com a participação de jovens sanseis e yonseis.


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 11/10/2007
 
« De olho no futuro, em São Paulo

 

Comentários

  1. Paulo Katsuda Filho @ 18 Dez, 2007 : 09:52
    Realmente isso é um fato que acontece nas nossas vidas de descendencia japonesa. Meu caso, sou filho de mãe japonesa e pai nissei. Coincidentemente tive minha infância em Araçatuba, onde tive a felicidade de conhecer esse "japonês" (Norio) e realmente acontece exatamente o que ele descreve acima. Parabéns!

  2. willy taguchi @ 26 Dez, 2007 : 11:51
    JAPONES/CALABRES. É interessante que esta expressão, provavelmente foi criada durante a II Grande Guerra e devia se referir a nikkeys - JAPONES e a descendentes de italianos - CALABRES. Por forca dos costumes, ficou EXCLUSIVAMENTE dedicada aos nikkeys.

  3. nelsonsinzato@brturbo.com.br @ 13 Jul, 2008 : 17:15
    Parabéns Sr. Marcelo. O Dr. protagonizou a versão do incrível Hulk japonês. Foi parar na diretoria, mas certamente sentiu com a "alma lavada". Porém creio que o Sr. também "lavou a alma" de outros que foram alvos dessa brincadeira de mau gosto.

  4. Renato Yassuda @ 8 Set, 2008 : 17:47
    Prezado INADA Norio-san; Gostei muito de seus relatos. Apenas gostaria de acrescentar que esta brincadeira infeliz que ouvimos na nossa infancia também ocorria com os descendentes de outras nacionalidades, como frisou o sr. Willy Taguchi em seu comentário anterior ao meu, sobre CALABRES = Italiano. Também ouvi esta fala sobre alemães: "Alemão batata come quejo com barata". Realmente creio que a II Guerra Mundial criou uma ojeriza aos representantes dos povos da Tríplice Aliança que perseguiu seus descendentes até hoje. Mais triste e lamentável é quando vemos estas manifestações entre pessoas adultas, a se referirem com qualquer forma preconceituosa de se referir ao outro. Quantas vezes não vemos estas manifestações preconceituosas em relação a outros povos e percebemos a pobreza de espírito de quem as profere. Pelo menos o senhor manifestou seu repúdio de forma CONTUNDENTE. Parabéns.

  5. Renato Yassuda @ 8 Set, 2008 : 17:55
    Prezado INADA Norio-san; Apenas complementando meu comentário anterior, acho importante que nós, na nossa geração e nas posteriores, possamos ainda mais promover a integração de nossa descendência ao povo brasileiro, contribuindo com a construção deste belo país. Quem já teve a oportunidade de conhecer outros países sabe que por mais dificuldades, defeitos e limitações que encontramos em nosso país, ainda sim são muito mais promissoras as potencialidades futuras deste em relação aos demais países. Cabe a nós fazermos nossa parte para a melhoria deste cenário e tenha sempre em mente que percorrer o caminho é mais importante que como se cruza a linha de chegada. Se puder, por favor leia também meu relato neste site. Ficarei grato e honrado. Saúde e Paz. Atenciosamente; Renato.

  6. Marcelo Norio Inada @ 29 Jan, 2009 : 23:00
    Pessoal!!! Meu site: www.marceloinada.com.br Um grande abraço! Marcelo Norio Inada

  7. Solange Moriwaki @ 17 Fev, 2009 : 10:43
    Nossa Marcelo gostoso ler de sua vida.nem nos conhecemos,mas é bonito de ver uma pessoa de tantos talentos,vejo que vc é um autentico aquariano,rs Bonito ver que vc expoe sua vida particular e profissonal,muitas pessoas fariam o contrario...mas quero q saiba.Que sendo assim vc transmite esperança a muitas pessoas.esperança de um dia melhor,se corrermos atraz dos nossos objetivos venceremos...Por isso,quero Parabeniza-lo e dizer q tenho orgulho de ser Araçatubense... Pq vc tbm nasceu na mesma cidade que eu..e quem sabe podemos ter amigos em comum..Q Deus o abençoe sempre..pq vc é um aquariano ILIMINADO!!

  8. mario katsuhiko kimura @ 17 Fev, 2009 : 12:30
    Parabens nobre sanssei Dr. Marcelo Norio Inada, Tenho uma filha também médica, Letícia Yurie Kimura, atua na área de radiologia junto a Medimage SP (Beneficência Portuguesa) e Grupo São Luiz (SP), também sanssei, nascida em 1978. Pelos seus relatos vejo que na sua região preservou-se mais os costumes do país do sol nascente, pois acho incomum sofrer ainda discriminação na sua geração por ser descendente. Na minha época de nissei era ¨japones calabrês come queijo com barata¨. Gostei da maneira que narra a sua historia, até cômico. Parabéns. Sucesso na sua vida pessoal e profissional. Grande abraço.

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