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1 Fev, 2008

Salva pelo cinema

Passei mais da metade da minha vida achando que o Japão era um troço esquisito, que ser japonês era ser CDF, comprar frutas no Ceasa ou na Cooperativa Agrícola de Cotia (onde meus pais se conheceram!). Era ter o corpo reto e sem curvas, um cabelo sem-graça de tão escorrido e que não segurava direito a maria-chiquinha. Era ir à praia e não ficar bronzeada.

Eu achava que ser japonês era ser careta, retrógrado e…preconceituoso. Cresci ouvindo histórias de namoros proibidos de tios e primos mais velhos  e achava  estranho esse lance de chamar o não descendente de japonês de gaijin.

Eu sempre questionava quem é que era estrangeiro e o faço até hoje. Me sinto estrangeira a vida inteira: em São Paulo, em Paris, em Tóquio.

Isso tudo até meus 20 anos, quando fui salva dos estereótipos.
Fui salva pelo filme Livro de Cabeceira, do Peter Greenaway, que tão poeticamente mostrou a tradição não pelo seu lado mais severo, mas pelo sutil e belo.  O gosto pela escrita, pela estética, pelas letras, pela tatuagem. Aprendi a amar o tradicional e notei o quanto a releitura disso é importante para tocar novas gerações.

Fui salva pela arte.
Para depois, ser salva por Paris.

Quando vim de férias para Paris em 2003,  descobri  um novo Japão: artistas contemporâneos, performers, fotógrafos, videomakers, escritores não publicados no Brasil, jornaizinhos culturais gratuitos, livros, mostras de filmes… Enfim, um Japão novo, despregado do karaokê e do Kohaku no dia 31 de dezembro, que nada tinha a ver com a lenda do Urashima taro (que guardo com tanto carinho e saudade, meu pai abrindo o livro e dizendo mukashi mukashi, algo como  "era uma vez…").
 
De volta à São Paulo, reencontrei com uma amiga, também sansei, designer e artista, a Flávia Yumi Sakai. Ela tinha passado uma temporada em Milão e teve a mesma sensação, a de que isso abriu sua percepção sobre "Japão" ou "arte+Japão".

O mergulho vai muito além disso, mas o fato é que hoje, somos sócias. Criamos, em 2005, o Espaço Cultural KIAI para "pensar e divulgar de um jeito novo a cultura japonesa no Brasil".  Absorvemos, criamos, trocamos.

Percebemos que muitos artistas, descendentes ou não de japoneses, têm grande influência e admiração pela estética japonesa e trazem isso impresso no seu trabalho de uma maneira renovadora. Começamos a trocar idéias, links, a produzir juntos…Somos moyashis, já deixamos a fase do algodão estufado de água, mas ainda estamos tomando sol na janela e crescendo.

Este blog vai falar do trabalho destes caras e de outros, que admiramos, e de quem nos inspira. Ele vai falar de estética, de arte, de imagens, que se manifestam, se desenvolvem e se renovam na mesma velocidade dos letreiros de Shinjuku, de Tóquio, do século 21.

Postado por Erika Kobayashi | 5 comentários

Comentários

  1. Ewerthon Tobace @ 2 Fev, 2008 : 15:25
    Ola Erika! Bem-vinda ao time! A gente nem se falou mais desde sua breve passagem por Tokyo. Queria conversar mais, saber mais, discutir mais e, quem sabe, comer um mochi assado com shoyu e açúcar! Beijos! e boa sorte!

  2. Joana Zimmermann @ 4 Fev, 2008 : 17:13
    Oi querida! Paris é sinonimo de muito trabalho! Muito trabalho é sinal de uma boa colheita de frutos! parabens, bJO

  3. nik @ 5 Fev, 2008 : 17:22
    Érika, ficou muito feliz de ver o blog dentro do portal da Abril. Tem textos muito bons, fico feliz de saber que tá tudo bem contigo e que o movimento Moyashi continua com essa força toda. beijos!

  4. Hikaru @ 13 Fev, 2008 : 02:52
    Acho o filme "Livro de Cabeceira" um dos melhores filmes que já vi! Foi por causa dele que me interessei em estudar japonês! Infelizmente não terminei o curso para entender tudo o que está escrito no filme. Mas pude ver o quanto a caligrafia japonesa é rica e poderosa.

  5. Janne Aki @ 6 Mar, 2008 : 08:20
    Érika......saudades!!!!!

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Perfil

Erika Kobayashi (aka KIKKS), 31 anos e muitos tags: jornalista, escritora, pesquisadora, consultora de tendências e produtora cultural. Uma das criadoras do Espaço Cultural KIAI e do coletivo de artistas "moyashis". Moro em Paris, metade do caminho para Tóquio. Aqui, descobri um Japão novo, contemporâneo, longe de estereótipos. Faço uma pesquisa de mestrado sobre mulheres japonesas na Sorbonne e todos os dias, nas ruas, acham que sou uma delas.
 


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