Em plena tarde deste domingo (8) em Akihabara região de Tóquio, um caminhão invadiu o trecho entre a rua princial (Chuo Dori), que estava fechada ao trânsito, e a rua Kanda-Myoujin, bem próximo a estação de metrô da JR, atropelando cerca de 4 pessoas e batendo em um táxi. Dentro do veículo estava Tomohiro Kato de 25 anos que saiu de lá com uma faca em punho e passou a apunhalar as pessoas aleatoriamente na rua. Cerca de 17 pessoas foram feridas no ataque que só cessou quando um policial ameaçou Kato com uma arma. Testemunhas disseram que ao ser preso, Kato dizia aos policiais: "Eu estou cansado do mundo e vim até Akihabara para matar pessoas. Podia ser qualquer um. Eu vim até aqui sozinho!"
Até o momento sete pessoas vítimas do ataque de Kato morreram. Seis homens e uma garota. O bairro de Akihabara é conhecido por suas lojas de eletrônicos e de produtos para fãs de mangá e anime. Segundo os policiais, Kato já havia visitado o bairro.
O crime aconteceu no aniversário de 7 anos de um outro crime realizado por Mamoru Takuma em 8 de junho de 2001 quando ele esfaqueou e matou 8 crianças e feriu outras 15 em uma escola primária na região de Osaka.
Esse é mais um dos crimes hediondos que chocou o país. E serve para mostrar um dos lados ruins do Japão. Os maiores crimes do arquipélago não acontecem porque as pessoas estão precisando de dinheiro, drogas ou comida como na maioria das atrocidades que acontecem no Brasil. No Japão, numa boa parte dos crimes as pessoas simplesmente surtam e num ato de loucura acabam ferindo ou matando outras pessoas sem nenhum motivo aparente.
Eu, particularmente, creio que isso se deva muito a estrutura social em que os japoneses vivem. Essa formação milenar que criou regras que devem ser seguidas a risca por todas as pessoas sem exceção. Além disso, tem o individualismo de cada um. Mesmo numa sociedade, onde todos precisam trabalhar por um bem comum, uma boa parte dos japoneses procura não se importar com o que acontece com seu próximo. Isso foi uma coisa triste que notei no tempo em que estive lá. É possível passar meses e até anos sem conversar com uma única pessoa.
Somando-se a isso ainda podemos dizer que os japoneses possuem uma educação que diz que nunca se deve exprimir demais os sentimentos e isso, para mim, é o último elemento de um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento. Não dá para generalizar, mas creio que uma boa parte do povo aguenta as pressões sociais sem reclamar, não se impõem ao sistema e não se rebelam nos momentos em que isso precisa ser feito. Não há válvula de escape, apenas uma explosão depois de muito mau-estar. E esses sentimentos podem virar insanidade e algumas destas pessoas tornam-se assassinos seriais em potencial, mesmo que por apenas algumas horas. O que deixa os japoneses com medo é que isso pode acontecer a qualquer hora, a qualquer momento. Pode ser um vizinho, um amigo ou até mesmo aquela pessoa que adentra a sua casa para fazer algum serviço: instalador de tv a cabo, encanador ou eletricista. Para mim isso tudo parece um grande "Dia de Fúria" (Falling Down,1993) como naquele filme do Michael Douglas. E me revolta muito ver que uma pessoa aparentemente inocente resolve de uma hora para outra ferir 17 pessoas. Provavelmente este cara será condenado a morte porque no Japão eles também não perdoam crimes hediondos como este. Mais está aí um problema que é muito mais complicado de resolver do que os nossos problemas com saúde, salário mínimo, aposentadoria, etc.
Se você entender um pouco de japonês e quiser saber mais sobre o assunto basta dar uma olhada nos links das agências de notícias: Yahoo! Japan, Yomiuri e Japan Probe.
Reportagem local
Postado por Renato Siqueira | 1 comentário
Comentários
Gorgeous @ 10 Jun, 2008 : 11:57
Eh. Eu tambem apontaria a estrutura social como a causa. Eh uma pressao danada. Nos, que conhecemos outra cultura, ainda talvez consigamos contornar os aborrecimentos diarios daqui. Quando nao concordamos ou achamos algo ruim, falamos. Bom, disse falamos. Corrijo, eu, pelo menos, nao deixo nada passar. Algo me aborrece, todos no laboratorio tomam conhecimento. Porem, como voce disse, japoneses nao sao assim. Nao tem como extravasar. Nem mesmo um "nao concordo", voce ouve. Aqui, na faculdade, ja ouvi gente chorando em uma das caselinhas do banheiro.
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Perfil
Renato Siqueira, 29 anos. Começou a se interessar por cultura japonesa quando tinha 13 anos e nunca mais parou. Está terminando o curso de Letras Português e Japonês na USP. Foi para o Japão em 2007 e pretende voltar logo que puder! Curte anime, mangá, games, cinema, J-pop, novelas, tokusatsu, comida e tecnologia japonesas - tudo que faz o Japão ser tão interessante e que chega até nós.