Na semana passada eu fui entrevistado pelo pessoal do Notícias MTV e a pauta era um tanto inusitada. Influenciados por uma matéria sobre nerds que saiu numa das edições da revista americana Wired, eles resolveram falar do Universo Nerd. Como aqueles garotos de óculos fundos de garrafa, estudiosos, excêntricos, tímidos e cheios de hobbies estranhos estão hoje. No passado os Nerds eram menosprezados pelos outros considerados "normais", só que hoje não dá pra dizer quem é nerd e quem não é. Hoje os nerds são ricos e donos de grandes empresas. Ou vai dizer, que Steve Jobs perdeu seu tempo. O cara que criou a Apple, e que enquanto a galera saía, bebia até cair e traçava a mulherada, ele ficava na garagem de casa bolando um dos melhores computadores do mercado. Nem vou falar do Bill Gates.
É engraçado, mas entender de filmes, seriados, novelas, quadrinhos, brinquedos e videogames no passado era coisa de gente esquisita. Aliás, entender bem de qualquer coisa diferente era motivo pra sofrer preconceito dos outros. E eu com essa cara, descendente de italianos com índios e falando japonês já era bem estranho. Alugar desenhos animados em locadoras japonesas já foi motivo de piada. Mas o tempo foi passando e agora entender uma língua oriental é moda. Hoje os japoneses olham pra mim e dizem que têm orgulho de ver que eu me interesso em aprender mais sobre uma cultura diferente. É inegável que as novas gerações de descendentes de japoneses perderam completamente o interesse em aprender o idioma dos avós. Algo que antes era quase obrigatório, hoje é bem banal.
Ser nerd é isso. É gostar de uma coisa diferente, persistir quando ninguém mais quer.
Dentro do termo nerd ainda existem as classes diferentes de pessoas, por exemplo os geeks - são fanáticos por computador, os gamers - fanáticos por games e os Otaku - fanáticos por animação e quadrinhos japoneses (os animes e mangás). E é nessa parte que eu entrei no MTV Notícias.
No Japão ser um otaku ainda é motivo de preconceito. Otaku é um pouco diferente do nerd. Porque este perde dinheiro comprando as coisas que gosta, não se importando com a sociedade a sua volta, trabalhando apenas para sustentar o "vício". Na sociedade japonesa onde a palavra "aprimorar" tem um sentido mais forte do que em outros países, uma pessoa que não se importa com o desenvolvimento do país é mal visto. O Otaku surgiu da opção dos jovens de fugirem das pressões sociais. Eu acredito que o tempo está fazendo aos poucos a sociedade japonesa aceitar a existência dos Otaku. Além disso, eu acredito que estes "fãs" estão mudando seu modo de agir e de pensar, e estão se parecendo cada vez mais com o típico nerd ocidental. Aliás o Otaku brasileiro, americano ou europeu tem o pensamento muito diferente do típico otaku japonês. Acho que se assemelha mais ao nerd atual, aquele que curte seus hobbies e continua excêntrico, mas tem namorada, trabalho e cuida dos seus compromissos.
Dentro dessa classificação de nerds eu não tenho o mínimo problema em dizer que sou um. Curto desenhos animados, novelas japonesas, videogames, quadrinhos e cinema. Esse interesse me levou a estudar história e cultura do Japão. Hoje tenho orgulho em dizer que sou bacharel pela Universidade de São Paulo em língua, cultura e literatura japonesa. Quem hoje em dia não é nerd que jogue a primeira pedra. A verdade é que as pessoas têm medo de assumir.
Era engraçado quando eu estava no Japão e ia para as baladas em Tóquio com os amigos, dançava, me divertia pacas, paquerava, fazia amigos e acordava no outro dia de manhã e dizia para o meu amigo: "Então, tô indo para Akihabara! Ittekimasu!"e ele me olhava com a cara mais esquisita do mundo. Para quem não sabe, Akihabara é o bairro dos eletrônicos de Tóquio, considerado o paraíso dos otaku. Ele me respondia coisas do tipo: "Você está virando Akibakei! Mas os otaku são kimoi, não é?Mas tudo bem porque você é estrangeiro. "
Akibakei é o nome dado aos otaku de Tóquio que vão direto pra Akihabara. Kimoi é "nojento"... Por estes termos já dá para perceber como são considerados os Otaku do outro lado do mundo.
Eu vou procurar uma matéria sobre Otaku que escrevi há algum tempo para uma das edições da antiga revista Herói e vou publicar aqui.
Bom, pra saber o que o pessoal da MTV Brasil fez com quase uma hora do papo que bateu comigo e com outros amigos, basta dar uma olhada hoje no programa MTV Notícias.
MTV Notícias
Segunda a Sexta às 21h30.
com reprises de segunda à quinta às 15h e às 1h45.
Bom preconceito aqui é palavra chave hehe eles sempre arrumam um jeito de ser preconceituosos com alguma coisa.
É triste hoje a galera não se importar com a cultura dos avós, eu depois que vim pra cá p/ japão meu interesse pela lingua e tudo mais aumentou, e quando fico procurando algo em relação a cultura ou estudando as pessoas ignoram, as pessoas digo os próprios brasileiros,vai entender né??
abraços
Luh @ 20 Mai, 2008 : 14:37
Olá, estou aqui no meu trabalho, e mexendo na internet vi seu blog e me interresei muito pelo seu, adorei o que você escreveu falando dos nerds e eu nao tenho problema nenhum de assumir que também sou uma nerds.
Njos.
Gorgeous @ 22 Mai, 2008 : 04:45
Interessante como voce procurou enfatizar que voce eh um nerd descolado que danca e paquera (ou leva toco a "vonts"). Bom, mas no fim das contas, discutir se eh おたく, ou 秋葉糸 ou um orgulhoso e genuino "nerd" brazuca, eh coisa de 間抜け系.
kikks/moyashis @ 22 Mai, 2008 : 05:51
Renato, vamos fazer uma expo no Bunkyo Matsuri. Apareça por lá, vou chamar os outros bloggeiros do site! (vernissage amanhã, 19h, no Bunkyo). Adorei este post
Renato Siqueira @ 22 Mai, 2008 : 13:11
Olha Gorgeous eu acho que se a palavra 間抜け系 existisse na língua japonesa seria aquele cara que entra aqui lê o que eu escrevo e admite que não tem a mínima capacidade de entender algo diferente ou mesmo de admitir que curte algo diferente. É aquele que entra aqui lê todas as coisas que eu escrevo, mas que tem alguma "dor de cotovelo" e que por total vergonha de se identificar coloca um nome qualquer pra ficar enchendo o saco. Acho que provavelmente você deve ser alguém que eu conheço, não?
Gorgeous @ 23 Mai, 2008 : 01:49
Infelizmente nao nos conhecemos, Renato. Acho que ter um camarada tao descolado no meu "rol" de amigos, enriqueceria muito meu universo. Sim, entro aqui para ler seus posts e ja ate encontrei ideias interessantes por aqui. Porem, acho que discussoes, para inserir pessoas dentro de determinadas tribos, eh inutil e dizer que, apesar de gostar de "games", vai tambem a baladas e "paquera", na tentativa de criar um contrapeso a uma possivel rotulacao, eh ridiculo. Por isso fiz o trocadilho com 間抜け系 que, em tempo, existe, sim. Nao tenho a pretensao de ensinar nenhum japones a um bacharel em lingua e cultura japonesas, mas este "系" (que alias eu escrevi errado em 秋葉系, la em cima), denota, como voce sabe, linhagem, grupo ou a giria "tribo". Esta ultima seria o mesmo que dizer a tribo dos grafiteiros, a tribo do "skate", a tribo dos metaleiros etc..., como diriam no Brasil. Entao dizer 間抜け系, eh o mesmo que dizer a "tribo dos manes" ou o grupo dos manes, assim como dizem お笑い系, 大所高所系, 禁欲系, 秋葉系 etc... Porem, ao que parece, o mais difundido acabou sendo so o 秋葉系 mesmo. Agora, se criticar seus posts eh proibido, caso contrario voce ja acha que o critico assim o faz por que tem "dor de cotovelo" (笑), seria melhor nao ter um blog de acesso publico.
Renato Siqueira @ 23 Mai, 2008 : 02:57
Então, o problema não é me criticar. Sinta-se a vontade pra fazer isso quando quiser. Só não gostei do tom.
Eu acho difícil uma pessoa não entender que existem pessoas que se enquadram nos dois estereótipos. Afinal, são apenas estereótipos. Uma pessoa pode sim curtir determinadas coisas e ainda assim sair e se divertir.
Acho que em determinadas épocas eu até fui bem bitolado. Dos 7 até os 15 anos eu gostava muito de videogame e passava um tempão jogando. Mas hoje eu tenho 29 anos, e claro, ainda curto muito os videogames, por isso já escrevi sobre o assunto para inúmeras revistas. Mas eu tenho que dizer que não troco passar um tempo com meus amigos ou com a namorada pelo videogame. É nesse contrapeso que eu estou falando. É sempre bom você ter o melhor dos dois mundos. E nessa realidade que vivemos hoje ter a mente aberta faz com que você viva muito mais feliz. Concorda?
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Perfil
Renato Siqueira, 29 anos. Começou a se interessar por cultura japonesa quando tinha 13 anos e nunca mais parou. Está terminando o curso de Letras Português e Japonês na USP. Foi para o Japão em 2007 e pretende voltar logo que puder! Curte anime, mangá, games, cinema, J-pop, novelas, tokusatsu, comida e tecnologia japonesas - tudo que faz o Japão ser tão interessante e que chega até nós.