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Veja, 25/02/1970

A quarta raça

DA REDAÇÃO

Os desenhos e a forma da cerâmica antiga da amazônia podem dizer se o japonês foi brasileiro há 4 000 anos

Além do índio, do branco e do negro, terá também o amarelo influído na formação cultural e antropomórfica do homem brasileiro?

Procurando responder a essa pergunta, arqueólogos e estudantes da quinta Operação Rondon entraram pelas selvas amazônicas, no início dêste mês, à procura de Manacapuru, uma pequena cidade (6 000 habitantes) a uns 90 quilômetros de Manaus. Os técnicos do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB) resolveram pesquisar a região porque foi lá que alguns arqueólogos alemães encontraram, anos atrás, cacos de vasos e de urnas funerárias de cerâmica antiga com elementos de forma e desenhos bastante semelhantes aos da cerâmica milenar japonêsa. Como, até agora, tôda a cerâmica da Amazônia (inclusive a marajoara) é considerada originária do Peru, onde se teria iniciado mil anos antes de Cristo, a revelação dos alemães preocupava os arqueólogos brasileiros há algum tempo. Por isso, enquanto Rio e São Paulo se preparavam para o carnaval, professôres e alunos da Operação Rondon decidiram aceitar o desafio de uma pergunta mais direta: "Será possível que os japonêses tenham vivido na Amazônia há mais de 4 000 anos?"

vaso
Um traço comum entre as cerâmicas antigas do Brasil e do Japão: o babado ornamental na base do vaso.

A descoberta sensacional - Os técnicos e estudantes começaram a estudar diversas peças encontradas quase à flor da terra nos arredores de Manacapuru, entre as quais um vaso pràticamente intato (foto na página ao lado) e uma urna mortuária contendo restos de ossada humana.

A descoberta dêsses ossos - noticiada em grandes manchetes pelos jornais de Manaus e Belém como sendo de japonêses - levou a Manacapuru jornalistas brasileiros e estrangeiros, há duas semanas (quando o repórter de VEJA voltava a São Paulo, chegava ao local a equipe da Televisão Francesa). Para o Professor Claro Calasans Rodrigues, 64 anos, presidente do IAB e coordenador da área de Manacapuru para a Operação Rondon, é quase evidente a passagem de japonêses pela região amazônica há alguns milhares de anos. Êle conta que na década de 60 um grupo de pesquisadores americanos localizou no interior do Equador camponeses que falavam o japonês arcaico, fato comprovado pelo adido cultural japonês de Quito, na época. Lourival J. Leite, 34 anos, diretor executivo do IAB (seção de São Paulo), confirma a informação de Calasans e vai um pouco mais além: os japonêses podem ter entrado em nosso território, depois de atingir o Equador pelo oceano Pacífico, através dos rios Napo (Colômbia), Solimões e Amazonas.

As diversas semelhanças - Tanto o Professor Calasans como Lourival Leite apóiam seu raciocínio em têrmos estéticos. Confirmando as impressões dos arqueólogos alemães, êles apontam uma espécie de babado ornamental existente na base dos vasos e das urnas, além de pequenos pagodes e figuras de olhos amendoados, gravados na cerâmica. Êsses detalhes comprovam, segundo os mesmos arqueólogos, a origem japonêsa: são idênticos aos elementos encontrados nas peças de recentes escavações feitas no Japão. Os estudantes de botânica, mineralogia e antropologia da Operação Rondon que acompanham os arqueólogos (no Brasil não existe curso específico de arqueologia) ficaram muito impressionados com as figuras de olhos oblíquos das cerâmicas. Para êles, os japonêses andaram mesmo por lá. "Basta ver os olhos do caboclo amazonense", diziam.

Mas a palavra definitiva não vai ser dada pelos estudantes da Operação nem pelos professôres do Instituto de Arqueologia Brasileira que trabalharam juntos em Manacapuru. Ela só será possível depois de estudos especializados a serem feitos na ossada descoberta na urna. Como o Brasil ainda não dispõe de laboratórios para êsse trabalho, o IAB pretende enviá-la aos Estados Unidos, dependendo de verbas que venham a ser conseguidas junto ao govêrno federal (o IAB foi fundado em 1961, como instituição de caráter científico, e dois anos depois era reconhecido de utilidade pública). Depois do tratamento conhecido como C-14, ou Carbono 14, não será muito difícil aos cientistas americanos atestar, com relativa segurança, a idade do esqueleto, bem como definir aproximadamente os caracteres da raça a que tenha pertencido.

Antes que isso aconteça, o enigma da quarta raça continuará acompanhando as futuras operações Rondon, como acompanhou a última, e os estudantes terão que se contentar em desenterrar objetos de cerâmica para admirar apenas sua beleza plástica, uma qualidade acima de qualquer discussão sôbre sua origem: as peças encontradas em Manacapuru revelam o bom gôsto do traçado e a simplificação de linhas ainda hoje perseguidos nos trabalhos dos ceramistas modernos.

 
 

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