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Veja, 9/08/1972

O yushósha

DA REDAÇÃO

De pé, um em frente do outro, na posição de "tàtcbiái", os lutadores concentraram-se no "ki-ai" - a harmonização espiritual da trindade juiz e combatentes. Em seguida, bateram palmas duas vezes para pedir proteção aos deuses, levantaram os braços mostrando que não estavam armados e, com estudada gravidade, agacharam-se, pernas bem abertas, corpo inclinado para a frente.

Erguendo o "gumpai", uma espécie de raqueta de madeira, na mão direita, o juiz gritou o "kamaetê", a ordem de preparar. Os lutadores puseram as duas mãos fechadas no chão, tocando simbolicamente no sal purificador derramado sobre o "dohyo", o ringue, e concentraram-se no adversário. O juiz apontou o "gumpai" para um ponto imaginário entre os dois e deu a ordem para começar: "Hakkoyói". Vinte segundos depois, o nissei Okano Kosahira foi atirado fora do circulo de 4,54 m de "dohyo", construído no meio da quadra de basquete do Departamento Estadual de Educação Física de São Paulo, e a luta acabou.

Com educada cortesia, a pequena torcida – quase todos japoneses – presente ao Campeonato Brasileiro de Sumo, dia 30, aplaudiu o "yushósha" (o vencedor) e novo campeão brasileiro – José Casimiro da Silva, um negro de 29 anos, 1,87 m de altura e 128 quilos, paulista radicado em Brasília.

Arroz e tomates – Para Antônio Morimoto, presidente da Associação Paulista de Sumô, a vitória de Casimira é a melhor prova de que o esporte – um dos três mais populares do Japão, ao lado do judô e do kendô (esgrima com bambus) - começa a atrair atletas de fora da colônia japonesa. "Entre os 220 participantes do campeonato, havia uns vinte sem qualquer parentesco com japoneses", diz ele.

Embora já tenha realizado onze campeonatos, apenas há três anos é que o sumô foi reconhecido pela Confederação Brasileira de Pugilismo. E só agora começa a despertar alguma curiosidade. "Depois do campeonato, muitos garotos e pessoas ligadas ao judô vieram me perguntar onde poderiam treinar. Eu me comprometi com uns dez para treiná-los quando chegar o campeonato do ano que vem. Se houvesse uma academia já não teria mais vagas", afirma Wilson Della Santa, neto de italianos, de 1,88 m de altura e 112 quilos, terceiro colocado no campeonato.

Apesar de introduzido há cinqüenta anos no Brasil, o sumô não tem academias nem em São Paulo, principal centro da colônia japonesa no país. Os lutadores treinam apenas em vésperas de disputas, e a maioria se mantém em forma praticando judô. Por enquanto, o esporte sobrevive nos festivais das cidades do interior onde se concentra a colônia. "Parexe com quermesse. A corônia se reúne e os prêmios são sacos de arois, camisas, caxa de tomate", conta Kiyomi Aoki, de 68 anos, 32 como juiz de sumô e um forte sotaque que 42 anos de Brasil não conseguiram anular.

Nomes esquisitos – Para poder realizar o III Campeonato Brasileiro, a Associação Paulista de Sumo gastou cerca de 23 000 cruzeiros arrecadados através das inscrições e do espaço para publicidade no folheto sobre o torneio. O "dohyo" foi feito com terra transportada da periferia da cidade. E pediam-se cadeiras emprestadas para acomodar o pequeno público. No Japão, o sumô (su = mútua; mô = força) é ensinado nas escolas, as lutas são televisionadas e os lutadores profissionais são tão famosos quanto um jogador de futebol no Brasil.

O peso médio dos lutadores é de 150 quilos e eles fazem regime para engordar, observando com prazer a barriga arredondar-se e cair em dobras sobre o "mawashi", uma larga tira de lona colocada em forma de primária sunga, cuja finalidade é menos pudica do que prática: serve para o adversário ter onde se agarrar.

No Brasil, os lutadores, em nome da decência, usam um calção sob o "mawashi", raramente chegam a pesar mais de 100 quilos e nem sempre conhecem os segredos do complicado ritual inicial. Depois de ganhar o título brasileiro, derrotando seus sete adversários no mesmo dia, José Casimiro, filho adotivo de japoneses, se confessava preocupado com seu peso (ele está fazendo regime para emagrecer). "Eu só posso comer, no máximo, duas bandejas de comida, mas estou sempre dando minhas beliscadas", diz com um enorme sorriso. Casimiro pratica o sumô há seis meses apenas e pouco sabe explicar sobre as táticas e técnicas que usou para ganhar o título brasileiro: "Ah, são uns nomes esquisitos. Nem sei falar, não".


 

 

 
 

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